De acordo com o sociólogo Guy Debord, no livro “A sociedade do espetáculo”, a modernidade é marcada pela valorização da aparência em detrimento da essência. Nesse sentido, no Brasil atual, houve um terrível aumento na banalização das cirurgias plásticas, seja pela pressão imposta aos corpos sociais, seja pela extrema difusão de procedimentos em meios digitais e práticas que violam o ideal central de Debord. Assim, é urgente e coletiva a manifestação da mutilação voluntária, dado que representa um imenso dano ao caráter dos indivíduos.

A princípio, vale ressaltar o grande e nocivo impacto das redes sociais e da aparência imposta, sendo esse o principal colaborador para a popularização da cirurgia estética. Nessa perspectiva, segundo o filósofo Zygmunt Bauman, no livro “Modernidade líquida”, a sociedade contemporânea é instável e efêmera, moldada pela aparência e pelo consumo. Nessa lógica, o intenso efeito causado pelas mídias digitais, como as influenciadoras mostrando inúmeros cirurgias como normais a serem seguidas, cria um cenário saturado da normatização e da idealização, que vulgariza a artificialização da beleza. Logo, com o vasto domínio dos meios tecnológicos, consequentemente tal trivialização cresce cada vez mais.

Ademais, a influência estética da modificação corporal em adolescentes e jovens contribui, extremamente, para a normalização do artifício estético. Séries, filmes e brinquedos, mostrados com o ideal de beleza imposto desde cedo, fazem com que jovens naturalizem alterações em seus físicos em busca de aceitação. Nesse viés, o mercado é moldado fielmente pela sociedade para alcançar o padrão de beleza inatingível, com isso, buscam incessantemente pelas cirurgias, e com a influência global da popularização, se tornam comuns e de fácil acesso. Desse modo, a busca por beleza tem normalizado as cirurgias plásticas, colocando jovens em risco para atender ideais impostos.

Portanto, é evidente a necessidade de combater a reificação de intervenções cirúrgicas no país. Para isso, cabe ao Ministério da Saúde, em parceria com as instituições de ensino, promover campanhas educativas que abordem os riscos físicos e mentais dos procedimentos, e estimulem a valorização dos belos naturais, por meio de palestras e campanhas midiáticas. Tudo isso a fim de reduzir a pressão estética e promover o bem-estar social.