A busca por pessoas desaparecidas como um desafio para a
segurança pública e a cidadania no Brasil
No documentário “O desaparecimento de Madeleine McCann”, observa-se como
o sumiço de uma criança mobilizou autoridades e sociedade civil em uma busca
internacional, evidenciando a seriedade com que o tema é tratado em outros países. No
Brasil, entretanto, o cenário é distinto: a busca por pessoas desaparecidas constitui um
grave desafio à segurança pública e à cidadania. Tal problemática decorre,principalmente, da omissão estatal, refletida em investigações lentas e desarticuladas, e da banalização social, que naturaliza a dor das famílias e enfraquece a mobilização coletiva por soluções.
Nesse contexto, evidencia-se a negligência estatal como um dos principais entraves à localização de pessoas desaparecidas. O sociólogo brasileiro Luiz Werneck,em “A Revolução Passiva”, afirma que o imobilismo no setor público impede as transformações necessárias à sociedade. Essa realidade se manifesta no Brasil por
meio da falta de integração entre bancos de dados estaduais e nacionais, da escassez de delegacias especializadas e da demora para iniciar investigações, fatores que comprometem a eficiência das buscas. Além disso, a ausência de investimentos em
tecnologia e capacitação de agentes públicos revela um Estado que falha em garantir o direito básico à segurança, ampliando a dor das famílias e fragilizando a confiança nas instituições.
Paralelamente, a banalização social agrava o problema e evidencia a crise da empatia na sociedade contemporânea. De acordo com a filósofa Simone de Beauvoir, “o mais escandaloso dos escândalos é que nos habituamos a eles”, o que expressa a naturalização de tragédias cotidianas. Essa reflexão se aplica ao contexto brasileiro, em que desaparecimentos são vistos como casos isolados, recebendo atenção midiática apenas quando envolvem pessoas famosas. Além disso, a disseminação de notícias falsas e a culpabilização das vítimas reforçam o descaso coletivo e tornam o fenômeno invisível. Tal postura enfraquece o senso de cidadania, pois sem pressão popular o
Estado tende a manter-se inerte diante dessa grave violação de direitos humanos.
Diante do exposto, o Ministério da Justiça deve aperfeiçoar o sistema nacional de busca por pessoas desaparecidas, por meio da criação de um banco de dados unificado entre os estados, da capacitação contínua dos agentes de segurança e da destinação
de recursos orçamentários específicos para tecnologia e equipes especializadas, a fim de tornar as investigações mais rápidas e eficazes. Além disso, o Ministério da Educação, em parceria com os meios de comunicação, deve promover campanhas
educativas e informativas sobre o tema, por meio de projetos escolares, redes sociais e mídias televisivas, com o propósito de sensibilizar a população e estimular a denúncia
imediata de desaparecimentos. Assim, será possível fortalecer a segurança pública e a cidadania, assegurando que nenhuma vida seja tratada como uma estatística esquecida.