A obra "Utopia", de Thomas More, aponta para uma estrutura social ideal, onde os indivíduos estariam em completa harmonia e os conflitos de caráter intolerante e preconceituoso deixariam de existir. No que se refere à questão do movimento imigratório no Brasil, nota-se que, na visão dos imigrantes, a nação, em algumas esferas, tem tomado a forma da sociedade citada por More, haja vista que, em contraposição à forma como os estrangeiros são tratados na Europa, o cenário de imigração brasileiro tem se mostrado acolhedor e receptivo. Como resultado de tal conduta, destaca-se a chegada de mais de 70 nacionalidades que contribuíram expressivamente para a história do país. Esse quadro é fruto tanto da educação que a população recebe em relação ao tema, o que interfere diretamente na forma como uma pessoa trata um imigrante, quanto das estruturas econômicas, políticas e sociais vigentes dos países emigrantes.

Apesar do, então chamado, relativismo cultural, que propõe a não imposição de uma cultura universal em um contexto nacional, faz-se necessário apontar sobre como essa linha de pensamento poderá acarretar na intolerância e no preconceito, à medida que os valores e crenças locais são tratados com mais importância do que os direitos universais, por exemplo. Nessa perspectiva, segundo Habermas, para que um problema seja resolvido, é preciso debate-lo, dessa forma, as instituições educacionais devem se caracterizar como espaços de debates, ao trazer assuntos relacionados ao respeito, à tolerância e à questão do relativismo cultural em detrimento dos direitos humanos. No que tange à sociedade brasileira, percebe-se sua preocupação com a questão delatada, assim como uma população mais solidária com os estrangeiros, tendo em vista a sua capacidade de respeitar a pluralidade social.

Somada à maneira que a comunidade enxerga os indivíduos de outras descendências, a temática evidencia, também, a figura estatal como possibilitadora dos fluxos de imigração. Isso ocorre, sobretudo, devido às falhas na economia das nações emigrantes. Como define Martin Luther King, "a injustiça num lugar qualquer, é uma ameaça à justiça em qualquer lugar", relata-se a imagem de um lugar inseguro, que generaliza a injustiça e a desigualdade. À proporção que, uma região apresenta tais características, o movimento imigratório é incentivado, já que seus moradores buscarão um novo lar que possa oferecer-lhes uma qualidade de vida melhor.

Ainda que o país se mostre favorável ao tema abordado, ainda há alguns entraves no que tange às políticas de acolhimento migratória. Sendo assim, é essencial que o Governo, em ação conjunta com ONGs, elabore programas sociais que possam integrar os representantes de outras nacionalidades nas estruturas sociais, bem como preparar melhor os estados a fim de oferecer-lhes condições dignas de vida, como moradia, empregos formalizados, e os documentos necessários para a estadia legal dos mesmos. Dessa forma, espera-se que a visão que o Brasil passa para o mundo continue, e possa enfim, chegar, em todas as suas esferas, no ideal proposto por More.