Para metaforizar o quanto a mídia é capaz de retratar as mulheres de maneira estereotipada, a crítica cinematográfica Laura Mulvey utilizou do conceito "male gaze". Essa expressão evidencia que, principalmente no mercado publicitário, os corpos femininos são frequentemente retratados de maneira a satisfazer o olhar masculino, reduzindo-os a meros objetos de desejo sexual. Nesse preocupante contexto, a reversão desse quadro demanda a análise dos fatores culturais e econômicos envolvidos, a fim de que sejam superados.
Em primeira análise, é importante perceber que infelizmente, no Brasil ainda se permeia uma cultura de ideias machistas, que desvalorizam os direitos das mulheres e permitem um terreno fértil para se desenvolver estereótipos de gênero e representá-las de maneira sexualizada e superficial. Segundo Aristóteles, o papel de cada cidadão - uma vez que "o homem é o animal político" - é a participação efetiva no corpo social com o objetivo do bem comum. Contudo, observa-se que nem todos contribuem para esse destino, quando se propagam ideias e práticas como a de que o objetificação da mulher é um assunto de menor relevância.
Em segunda análise, é indubitável que os meios de comunicação de massa, visando lucro, utilizam dos corpos femininos como estratégia de marketing para atrair a atenção masculina. Sob tal ótica, os interesses do capital se impõem aos direitos de todos os cidadãos, principalmente o da mulher, quando em setores como o da moda, cosméticos e entretenimento, o corpo feminino é frequentemente explorado para vender produtos e serviços. A vista disso, esse ciclo econômico não apenas reforça padrões de beleza irreais, mas também contribui para a manutenção de normas patriarcais.
Nessa perspectiva, é notório que medidas são necessárias para solucionar tal problemática. Para tanto, urge que o governo, responsável pela criação e implementação de políticas públicas, eduque a população sobre os impactos de conteúdos sexualizados, por meio de campanhas educativas e de regulamentação das práticas de marketing envolvendo mulheres, visando reduzir o estímulo ao consumo exacerbado na mídia de objetificação do corpo feminino. Só assim, a sociedade brasileira não terá mais com o que se preocupar em relação a esse impasse.