O artigo 4 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que "Ninguém será mantido em escravidão ou servidão", no entanto, na realidade brasileira ainda podemos ver a permanência na sociedade ao passo que sua população desconhece tal realidade, assumindo que isso já foi deixado no passado com a abolição da escravatura. Somando isso à um cenário de pouca punição para quem comete tais atos, se forma um ambiente problemático que precisa ser debatido com urgência.


Em primeira instância, nota-se que a problemática em questão não ocupa um grande espaço na consciência coletiva da sociedade. Isso se origina pela noção de que depois da abolição da escravatura em 1888, tal condição passou a não existir mais em todo território nacional. Aldous Huxley diz que "“Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”, o mesmo vale nessa questão, que ainda persiste em paralelo à falta de noção sobre os casos de trabalhos análogos à escravidão que ocorrem diariamente, o que causa inércia sobre o problema na sociedade, pois não à pressão social alguma em direção de mudanças.


Em outra instância, é importante ressaltar que, a maior parte do poder, historicamente, se concentra nas mãos dos herdeiros de indivíduos que no passado foram donos de escravos, sendo assim, a punição para tal classe ao crime de imputar condição de servidão à um outro - na maior parte das vezes, uma minoria marginalizada - se torna branda, pois o agente de poder que pune é conivente com tal ação, já que ambos (quem comete, e quem pune o crime) fazem parte da mesma classe dominante. Levando isso em consideração é de suma importância que ações sejam tomadas.


De acordo com Djamila Ribeiro, “Para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade”, sendo assim, cabe ao governo federal investir em campanhas de conscientização e divulgação através dos meios de mídia tradicional e através das redes sociais, com o objetivo de divulgar casos de pessoas resgatadas de situações de trabalho escravo ou análogo a tal, fornecendo um meio eficiente e seguro para denúncia como números de telefone e sites que possibilitem denúncias anônimas por qualquer indivíduo. Adicionalmente, cabe também à população conscientizada, se manifestar com o objetivo de criar pressão política para que leis sejam aprovadas para tornar ainda mais duras as punições à aqueles responsáveis por tal agressão à dignidade humana.


Talvez dessa forma, possamos enxergar uma natureza não só teórica, mas também prática da Declaração dos Direitos Humanos.