No livro "O Cidadão de Papel", do jornalista Gilberto Dimenstein, a denúncia da ineficácia de diversos mecanismos legais é feita, evidenciando uma cidadania aparente _ metáfora utilizada pelo autor. Nesse sentido, pode-se relacionar tal premissa ao que ocorre no Brasil, por exemplo, o fato de ainda existirem desafios para a valorização da herança africana na sociedade. Isso é causado pela negligência governamental e pelo preconceito racial, inviabilizando a plenitude dos direitos culturais.

Em primeiro lugar, conforme a Constituição Federal de 1988, o respeito e a valorização cultural devem ser colocados em práticas. Contudo, esse inciso não é efetuado quando se trata da cultura africana, haja vista que tal etnia no Brasil é inferiorizada e está comprometida. Essa constatação, pode ser feita enquanto há o nítido descaso governamental perante esse problema, pois não acontecem políticas que visem facilitar a expansão e o reconhecimento das práticas de origem preta, provinda da África _ seja pelo estabelecimento de lojas e empresas que espalhem essa linguagem, seja pela promoção de lugares, estátuas ou objetos africanos como "Patrimônio Cultural". Desda maneira, a herança africana é excluída, tendo seus valores negligenciados.

Além disso, vale ressaltar o reflexo da desigualdade racial para a desvalorização da cultura africana. Com o advento da escravidão, iniciada em meados do século XV, o racismo se intensificou, tendo em vista que, os colonizadores europeus, ridicularizava o preto, a qual era vista, por eles, como suja, e a submetia a trabalhos forçados. Diante tal cenário, a herança africana é escarneada, uma vez que ela provém de pretos escravizados. Por conseguinte, músicas e práticas, como o pagode a capoeira, não são reconhecidas como parte do povo africano, mas aperfeiçoamento europeu. Com isso, a sociedade brasileira vê essas tradições desrespeitosamente.

Portanto, é necessário que o Governo, a partir da criação de um Órgão Federal, estabeleça leis que visem promover identidades africanas como Patrimônio Cultural para que, assim, a herança africana receba seu devido valor e respeito e a população a reconheça na sociedade. Desse modo, a capoeira, por exemplo, será vista como uma prática provinda do povo africano e, esse, será valorizado no Brasil. Ademais, compete a população minimizar o racismo, por meio de campanhas e projetos, com o fio de valorizar tal cultura e refutar a "cidadania aparente" abordada por Dimenstein.