O romance filosófico "Utopia" criado pelo escritor inglês Thomas Morus no século XVI - retrata uma civilização perfeita e idealizada, na qual a engrenagem social é altamente segura e desprovida de conflitos e problemas. Tal obra fictícia, mostra-se distante da realidade contemporânea no tocante ao severo impacto dos desastres ambientais no Brasil, problema ainda a ser combatido no Brasil. Esse panorama lamentável ocorre não só em razão da negligência governamental na fiscalização e prevenção mas também da falta de consciência socioambiental da população. Desse modo, torna-se fundamental a análise dessa conjuntura para reverter esse quadro.
Nessa linha de raciocínio, é primordial destacar que a carência de investimentos em medidas preventivas e de recuperação deriva da ineficácia do Poder Público, no que concerne à criação de mecanismos, os quais coíbam tais recorrências. Sob a perspectiva do filósofo contratualista John Locke, o Estado foi criado por um pacto social para assegurar os direitos fundamentais dos indivíduos e proporcionar relações harmônicas. Entretanto, é notório o rompimento desse contrato social no cenário hodierno brasileiro, visto que, devido à baixa de atuação das autoridades, o rompimento de barragens, como em Brumadinho, e os grandes incêndios, como no Pantanal, evidenciam a exposição da população e do meio ambiente a riscos catastróficos, resultando em perdas de vidas e destruição de ecossistemas. Destarte, fica evidente a ineficiência da máquina administrativa na resolução dessa situação caótica.
Além disso, a carência de educação e responsabilidade socioambiental apresenta-se como outro desafio da problemática. De acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, em sua teoria sobre a modernidade líquida, a sociedade contemporânea, marcada pela fragilidade dos laços sociais, prioriza o individualismo em detrimento da responsabilidade coletiva. Tal conceito abordado é materializado no Brasil, haja vista que a ausência de planejamento urbano e o descarte inadequado de lixo por parte de cidadãos em áreas de risco intensificam desastres naturais, como enchentes e deslizamentos de terra o que, consequentemente, prolonga e agrava as consequências dos desastres ambientais no país, afetando a saúde pública e a infraestrutura, já que a manutenção de hábitos nocivos ao meio ambiente, como a poluição e o desmatamento, contribuem para a perpetuação desse quadro deletério. Logo, tudo isso retarda o combate aos problemas ambientais causados pela intervenção humana .
Infere-se, portanto, a necessidade de mitigação dos entraves em prol da diminuição do impacto devastador dos desastres ambientais no Brasil. Assim, cabe ao Congresso Nacional, mediante o aumento do percentual de investimento, o qual será proporcionado por uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias, ampliar o investimento em sistemas de alerta precoce e obras de infraestrutura preventiva, como saneamento básico e contenção de encostas por meio de palestras ministradas por profissionais especializados na área (como mestres e doutores em Gestão Ambiental e Defesa Civil), com o objetivo de informar a população sobre os riscos e as práticas de prevenção, garantindo a segurança e o direito à vida, conforme o pacto social de Locke. Dessa forma, poder-se-á concretizar a "Utopia" de Morus na sociedade brasileira.