A Constituição Federal de 1988 e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) garantem os direitos e a participação plena das pessoas com deficiência (PcDs). Todavia, o Brasil ainda falha na inclusão laboral desses cidadãos, possuindo apenas cerca de 45% das PcDs empregadas formalmente, segundo os dados do IBGE de 2019. Essa exclusão social decorre da falta de acessibilidade, do preconceito estrutural e da ineficiência de políticas públicas.
Sob um primeiro olhar, pode-se apontar como um empecilho à consolidação de uma solução, a deficiência na acessibilidade estrutural, manifestada na ausência de rampas e elevadores em edifícios, na falta de intérpretes de Libras em serviços essenciais e de legendas em mídias, limitando significativamente as oportunidades profissionais disponíveis às PcDs. Na obra "Modernidade Líquida", Zygmunt Bauman defende que a sociedade atual é fortemente influenciada pelo individualismo. Essa tese pode ser observada de maneira específica na realidade brasileira, no que tange aos desafios na inclusão de PcDs no mercado de trabalho. A ênfase exarcebada do “eu” e a fragilização dos laços sociais, características dessa liquidez, traduzem-se na relutância de muitas empresas em realizar os investimentos necessários em acessibilidades e em programas de inclusão, pois tais ações são vistas como custos adicionais e não como parte de uma responsabilidade social coletiva. Essa tendência dificulta a articulação de esforços e políticas públicas eficazes para a inclusão de PcDs no mercado de trabalho.
Como consequência, tais obstáculos resultam em exclusão social e falta de autonomia. Muitas pessoas com deficiência são impedidas de alcançar a independência financeira ou de se desenvolver plenamente em suas áreas de interesse. O filme Intocáveis ilustra essa realidade ao mostrar os desafios enfrentados por um homem tetraplégico em sua rotina, mesmo com recursos. No Brasil, essa realidade é ainda mais dura, especialmente para aqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Portanto, é imperativo que o Ministério do Trabalho, em parceria com as Secretarias Estaduais e ONGs voltadas à acessibilidade, assegure o cumprimento da LBI. Isso deve ocorrer por meio de fiscalização efetiva de Lei de Cotas, campanhas de conscientização sobre capacitismo e direitos das PcDs em redes sociais e escolas, e incentivos fiscais para empresas que contratem e adaptem seus ambientes. Essas ações visam garantir a inclusão digna e o pleno exercício da cidadania por esses indivíduos.