Para Clément Rosset, toda realidade é cruel. Essa crueldade é facilmente observada nos desafios para a promoção da alfabetização, que no Brasil, muitas pessoas são privadas de exercer a cidadania por não serem alfabetizadas. Nessa perspectiva, é nítido um problema cruel, que resulta da falta de informação e da omissão governamental.
Em primeiro lugar, figura o desconhecimento da população sobre o tema. Para Platão, "a parte que ignoramos é muito maior do que tudo quanto sabemos". De fato, há uma ignorância generalizada sobre a alfabetização, uma vez que grande parte da população desconhece os impactos do problema, o que pode gerar a descontinuação dos estudos. Por consequência, o empecilho pode trazer prejuízos a sua própria vida como a falta de oportunidades profissionais e a dificuldade de melhores condições financeiras.
Além disso, a negligência do Poder Público é preocupante. A teoria das instituições zumbis, de Bauman, critica a ineficácia das instituições na sociedade contemporânea. Tal fragilidade é nítida no papel do Estado frente à promoção do aprendizado básico, visto que o governo não realiza investimentos suficientes para promover a alfabetização em todo território nacional. Isso acarreta na escassez de escolas especialmente no interior, onde para estudar é necessário percorrer longas distâncias, o que leva a muitos estudantes não conseguirem continuar os estudos por vezes antes mesmo de serem alfabetizadas.
Portanto, uma intervenção faz-se necessária. Para isso, o governo deve criar uma agenda específica para a alfabetização, por meio de uma lista de ações públicas, a fim de reverter a ineficiência em que se encontra e agir sobre a falta de informação da população frente ao tema. Tal ação pode, ainda, contar com consultas para entender as reais necessidades das pessoas. Dessa forma, será possível vislumbrar uma realidade menos cruel.