Na obra "Utopia", do escritor inglês Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita, na qual o corpo social é caracterizado pela ausência de conflitos e mazelas. No entanto, fora da ficção, o que se observa, hodiernamente, na sociedade brasileira, é o oposto ao que é pregado pelo autor, haja vista os desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Sendo assim, faz-se necessário a análise dos principais fatores que contribuem para essa triste realidade: o descaso governamental e a inércia midiática.

Em primeiro plano, é imprescindível destacar a falibilidade estatal como fator agravante dessa problemática. A Constituição Federal de 1988, também conhecida como "Constituição Cidadã", assegura que todos são iguais perante a lei. Entretanto, na realidade brasileira contemporânea, isso não se concretiza, visto que há desafios para valorizar a herança africana no Brasil, legado de suma importância para a história do país e para valorização étnico-racial. Logo, é visível a ineficiência legislativa e a omissão governamental, em virtude da escassez de investimentos voltados a combater essa questão. Sobre isso, o filósofo Thomas Hobbes afirma que o Estado é responsável por garantir o bem-estar social. O que não acontece, já que a inoperância governamental resulta na persistência do preconceito contra afro-brasileiros.

Ademais, é válido ressaltar que o silenciamento midiático contribui de maneira efetiva para a solidificação desse entrave. Sobre isso, conforme o professor Afonso Albuquerque, a mídia brasileira é o quarto poder, e deve ser vista de maneira conceitual, uma vez que ela gera grande influência para a população. Contudo, é notório a falta de divulgações sobre esse assunto, dado que a mídia atual se importa em informar sobre o que lhe dá mais retorno financeiro, e não sobre pautas relevantes para o desenvolvimento da população. Ocasionando no desconhecimento dos cidadãos sobre o assunto e na invisibilidade do mesmo.

Em virtude dos fatos mencionados, infere-se, portanto, que é indubitável haver medidas adotadas pelo governo. Dessa forma, o Poder Público, em parceria com a mídia, principal difusor de informações e formador de opiniões, deve criar políticas públicas e projetos sociais, por meio de campanhas publicitárias nas redes sociais, como Facebook e Instagram, e palestras nas escolas com representantes africanos, com o intuito de conscientizar a nação sobre a importância e valor da herança africana no Brasil, a fim de acabar com o preconceito e trazer conhecimento do assunto, tirando-o da invisibilidade, e, consequentemente, combater o empecilho. Promovendo, assim, uma sociedade harmônica e mais parecida com o conceito estabelecido por More em sua mencionada obra.