O filme “Estrelas além do tempo” apresenta a história de três cientistas negras que enfrentavam um cenário de segregação nos Estados Unidos. Enquanto tentavam manter suas raízes culturais vivas, lidavam com a dor de não poderem manifestá-las em seus trabalhos. De maneira similar à história fictícia, nota-se, na comunidade brasileira, a necessidade de debater os desafios para a valorização da herança africana, cabendo analisar a problemática sob dois aspectos principais: a falha governamental em assegurar o ensino real da história do povo preto no Brasil, bem como o racismo estrutural.
Sob essa ótica, é perceptível a falha governamental em assegurar o ensino fidedigno da história do povo preto no país, uma vez que, apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação determinar que o assunto seja ministrado nas escolas, tal tema é sempre apresentado pela perspectiva eurocêntrica. Nessa trama, constata-se a associação da cultura africana ao campo das histórias fantasiosas, quando trazidas para território nacional, limitando seu consumo àqueles que estão à margem da sociedade. Isso acontece pois, ao valorizar a herança deixada pelos ancestrais da maior parte do povo brasileiro, questiona-se os ideais sob os quais o corpo social foi construído. Dessa forma, promover políticas que garantam, de fato, o ensino da história dos negros no Brasil faz- se imprescindível.
Além disso, vale ressaltar que o racismo estrutural também atua como entrave à valorização da herança africana, já que o legado desse povo tem sido apagado ao longo das gerações. Essa é uma realidade que demonstra que as transformações sociais acerca do reconhecimento da história dos negros como elemento necessário à consolidação da identidade nacional, não foram suficientes para impedir que o preconceito étnico-racial se alastrasse. O cenário se deteriora ainda mais ao verificar que grande parte dos feitos históricos foram mascarados pelo trabalho escravo, fato esse descrito pelo samba-enredo da mangueira, com o trecho “Tem sangue retinto pisado, atrás do herói emoldurado”. Desse modo, incentivar mudanças profundas no ideário social é indispensável.
Urge, portanto, que o poder público atenha-se aos desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Para isso, cabe ao Ministério da Educação, com auxílio das esferas municipais e estaduais, promover o ensino obrigatório da história real dos negros no país, por meio da reformulação do conteúdo, objetivando mitigar o apagamento.