A filósofa brasileira Djamila Ribeiro, em sua obra “Pequeno Manual Antirracista”, argumenta que o reconhecimento das desigualdades estruturais é essencial para a promoção da justiça social. Nesse sentido, é imperativo abordar a falta de valorização da cultura africana no Brasil, haja vista que é um assunto pouco discutido na sociedade brasileira. Sendo assim, a análise dessa questão revela dois fatores centrais: a escassez de ensino sobre o tema e o desinteresse dos políticos pela causa.
De início, deve-se apontar como agravante a falta de um ensino crítico sobre os obstáculos para valorizar a cultura africana. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, a reprodução das desigualdades sociais ocorre através da educação, que raramente questiona as ideologias dominantes. De fato, essa lacuna educacional é resultado de um currículo escolar que não promove reflexões profundas sobre as questões de justiça social. Dessa forma, a ausência de criticidade nas escolas dificulta a formação de cidadãos conscientes e engajados na luta pelos direitos da população afro-brasileira.
Ademais, o desinteresse dos políticos é outro corroborador para a desvalorização da herança africana no Brasil. De acordo com a teoria da escolha racional, defendida pelo cientista político Anthony Downs, os políticos tendem a agir de acordo com seus próprios interesses e a buscar ações que maximizem suas chances de reeleição. Assim, a omissão dos governantes em relação às necessidades da população afro-brasileira pode ser explicada pela percepção de que tais questões não trazem retorno eleitoral imediato, levando-os a priorizar pautas que atendam a interesses mais populares ou grupos mais influentes. Logo, há a manutenção do desconhecimento da cultura africana.
Portanto, urge que o Estado combata o descaso com a herança africana na sociedade brasileira. Então, o Ministério da Educação deve desenvolver e implementar um programa abrangente de educação cívica - o qual inclua disciplinas de educação para cidadania, direitos humanos e justiça social, com ênfase na realidade dos marginalizados -, por meio de uma formação continuada de professores sob a orientação de especialistas em educação e direitos humanos, a fim de promover uma sociedade mais crítica em relação às desigualdades sociais, o que beneficiará a população afro-brasileira.