"Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação". Com esse verso, a música "Que País é este" expõe a distância entre os direitos estabelecidos constitucionalmente e a realidade do país. Essa discrepância torna-se ainda mais evidente diante dos desafios de valorizar a herança africana no Brasil. Nesse contexto, apesar de ser um direito assegurado na Carta Magna, a situação se agrava devido ao racismo estrutural e à negligência histórica, tornando essencial a intervenção do poder público.
A princípio, é crucial mencionar o racismo presente na estrutura nacional como fator determinante para a permanência da questão na comunidade. Sob esse viés, a tela "Redenção de Cam" evidencia a tentativa de impor o embranquecimento na sociedade brasileira. Nessa perspectiva, a ideia de eugenia (branquear a população) ainda persiste, afetando a herança africana deixada, haja vista que, o preconceito inibe os descendentes a esconderem as suas origens e a sua cultura, por medo de ataques, sejam verbais ou físicos.
Ademais, a negligência histórica é outra preocupação em relação aos impasses para a valorização da herança afro-brasileira. Nessa ótica, a pensadora Maya Angelou afirma que um povo que não conhece o seu passado, está fadado a repeti-ló. Sob esse prisma, o déficit de informações sobre o passado escravocrata brasileiro corrobora a problemática, uma vez que, após a abolição da escravatura, em 1888, todos os registros de descendentes africanos foram destruídos, dificultando a preservação da herança afrodescendente.
Portanto, é inadmissível que os desafios para valorizar a cultura africana continuem a persistir no país. Para isso, cabe ao Estado - promulgador do bem-estar social - por meio de palestras e atividades extracurriculares, promover campanhas educativas sobre a história africana nas escolas e faculdades, com o fito de transmitir a herança afro-brasileira a todos e mitigar os danos de séculos negligenciados. Além disso, o Ministério da Cultura, por intermédio da reorganização das diretrizes identitárias do povo afro, deve manter-se claro e ativo em um posicionamento, a fim de dar visibilidade ao tema supracitado. Assim, a canção "Que País é este", da banda Legião Urbana, não refletirá a realidade brasileira.