"Ensaio sobre Cegueira" retrata a invisiblização de certas coisas na sociedade. Na realidade brasileira, a crítica de Saramago é verificada na valorização do legado africano, visto que esse grupo não ganha o reconhecimento devido, principalmente pelos grandiosos feitos que proporcionaram ao país. Assim, emerge um grave problema devido a omissão governamental e a falta de debate.

Em primeira plano, a ineficiência do poder público é preocupante. A teoria das instituições zumbis, de Bauman, critica a ineficácia das instituições na sociedade contemporânea. Tal fragilidade é notória no papel do Estado frente ao cuidado com as heranças africanas, visto que há uma falta de ações públicas que defendam e preservem os costumes desse grupo. Isso colabora para a perca de interesse da população.

Outrossim, outro fator influenciador é o silenciamento. Para Marilena Chauí, "a apatia social é uma forma de fazer política". Ou seja, é necessário responsabilizar a população que se cala perante a falta de zelo para com os legados africanos. Por exemplo, na Guerra do Paraguai, grande parte dos soldados brasileiros eram afro-descendentes, porém não são estes que ganham homenagens e são tidos como heróis. Assim, é necessário reverter essa apatia social, para atuar na questão.

Portanto, medidas devem ser tomadas. Para isso o governo deve criar uma agenda específica para a valorização das tradições africanas, por meio de uma lista de ações públicas, a fim de reverter a ineficiência em que se encontra e agir sobre a falta de discussão que impera. Tal ação pode, ainda, conter consultas para entender as reais necessidades da população. Dessa forma, será possível superar a cegueira em que Saramago falou.