O filósofo grego Platão foi o responsável por idealizar Kallipolis, uma cidade livre de conflitos e problemas, na qual a cidadania é um privilégio universal. Todavia, a desvalorização de uma herança cultural tão importante como a transmitida através de povos africanos, simboliza um afastamento dessa realidade utópica. A partir disso, convém analisar os principais impasses deste ideal de visibilidade à relevância dos elementos culturais afrobrasileiros.
Em primeiro plano, é preciso um olhar para a história de um povo marcado pela dor e tirania do período escravista, tendo até mesmo direitos básicos negados. Recorte de tempo no qual estabaleceram uma identidade, a resistência como prepulsora, que atualmente constitui parte indispensável da identidade nacional brasileira. Feijoada e as chamadas "tranças afro", dois elementos naturalizados no cotidiano da nação verde e amarela que tiveram, pouco-a-pouco, suas raízes desconsideradas. Além disso, é válido ressaltar como a marginalização desses povos construiu para tal impasse.
Erving Goffman, por meio de suas importantes obras, conceitua o chamado "Estigma" como a imposição de imagens perjorativas a um determinado subgrupos por suas características étnicas, socioeconômicas e raciais. Tal processo, no contexto hodierno, pode ser explicado pelo pensamento arcaico, que ainda perdura no corpo social moderno. Sob esse viés, ainda que o meio virtual tenha corroborando para a disseminação de culturas outrora pouco conhecidas, também colaborou para a normalização do preconceito racial. Nesse sentido, existe um tipo de "liberdade" no anônimato, explicada pela má fiscalização das principais plataformas sociais, utilizadas como mecanismo de disseminação do chamado racismo.
Portando, cabe ao Ministério da Cultura, promover e incentivar novas discussões sobre como a construção dos elementos simbólicos nacionais se deu pela junção cultural de diferentes povos étnicos. Tal incentivo seria proporcionado através da parceria com educadores preparados, a fim de que essas culturas sejam devidamente reconhecidas e valorizadas. Dessa forma, o "Privilégio Universal" de Platão assemelharia-se à realidade.