A música "quem tem boca vai a Roma" do cantor César MC, retrata a desigualdade racial enraizada na cultura brasileira, evidenciada em estrofes como: "feridas da escravidão já não se curam com gaze" e "tiros de bocrracha apagam histórias de quem nem teve caneta", as quais é possível perceber os desdobramentos atuais dos acontecimentos passados. Nesse contexto, é possível perceber que o processo de escravidão e aculturação ocorridos a partir de 1500 no Brasil possuem efeitos profundamente inseridos na atual sociedade brasileira. Com isso, é possível concluir que os desafios para a valorização da herança africana no Brasil são causados devido omissão governamental o processo histórico de silenciamento da população preta.
Em primeiro viés, é preciso atentar para a intensificação da problemática pelo descaso estatal, em relação à preservação da cultura negra no Brasil, visto que esse, em anos de inserção desse povo no país, apenas recentemente iniciou processos de manutenção e investigação desta herança. A constituição federal de 1988 garante a preservação da cultura brasileira e nomeia o Ministério da Cultura como responsável por efetiva-lá. Nesse viés, é possível notar que o Estado não tem cumprido com o previsto na Carta Magna, visto que esse tem se mostrado inerte à eficiente valorização e, consequentemente, perdedor de diversos aspectos físicos e intelectuais com o tempo.
Por outro lado, o processo histórico de silenciamento da população negra também é um catalisador do hiato valorizacional da herança africana, considerando eventos históricos destrutivos culturalmente, como o "branqueamento" do Brasil- iniciante da gentrificação racial a lugares que são atuais favelas e cortiços- que, assim, apagou lugares de importância nacional dos mapas brasileiros e marginalizou a população não branca. O livro "quarto de despejo" de Carolina Maria de Jesus evidencia o início das favelas e a situação precária dos brasileiros nesse contexto- ainda recorrente- além das raras aparições dos políticos que usavam da vulnerabilidade do povo para fazer falsas promessas de uma vida mais justa. Nesse contexto, é possível relacionar o relativismo pessoal da escritora com o processo histórico mencionado, além de destacar a momentaneidade do sucesso de Carolina, que se destacou como "exótica" mas ao continua o escrevendo seus relatos, foi logo "silenciada" por um meio racista e misógino. Por conseguinte, esse silenciamento frequente gera opressão e marginalização da população originalmente preta.
Portanto, é evidente que a valorização da herança africana no Brasil é cheia de desafios e isso ser resolvido. Para tanto, o Estado, órgão responsável por garantir a igualdade de todos, deve promover políticas públicas eficientes de preservação dessa cultura através do maior incentivo aos ministérios repensáveis pela cultura e pela igualdade racial, por meio de buscas sobre a cultura africana perdida no decorrer da história, e da voz dos descentes dos escravos com heranças familiares físicas e intelectuais, com o fim de reduzir significativamente os obstáculos da valorização da herança africana e, finalmente, começar a curar as feridas geradas pela escravidão, como evidenciado por César.