A obra "cegueira" retrata a invisibilização de problemas sociais em uma sociedade distópica, onde a população e o governo negligenciam suas causas. No Brasil, hodiernamente esse cenário tem se reproduzido, com a histórica desvalorização da cultura afro-brasileira, em razão ao preconceito enraizado desde o período colonial e escravocrata. Com efeito, cabe perquirir como fatores agravantes a esse óbice a ineficácia estatal no desenvolvimento de medidas reverter esse cenário, e a falha no sistema de ensino no que tange a história e cultura africana no Brasil. Dessa forma, é necessário que ações sejam efetivadas para mudar esse cenário adverso.
Ante o exposto, é fundamental destacar a negligência estatal como potencializadora da desvalorização da cultura e história dos povos africanos no Brasil. Nesse escopo, John Locke afirma "o principal objetivo do Estado é garantir a segurança e bem-estar do cidadão". Entretanto, observa-se o descumprimento desse objetivo, quando a população negra sofre com o racismo estrutural contra seu costumes, crenças, e até seu cabelo, sendo impedidos de desfrutar de seus direitos, bem-estar e de conseguir emprego, onde jovens perdem vagas de por utilizar o corte "black power". Por conseguinte, a herança africana é inferiorizada e destinada ao esquecimento devido ao descaso por parte do Estado em combater o preconceito e valorizar as origens brasileiras.
Ademais, é de suma importância analisar os entraves gerados pelo sistema educacional falho e eurocêntrico. Nesse sentido, segundo Paulo Freire "se a educação sozinha não transforma tão pouco sem ela a sociedade muda", logo, é indispensável efetuar mudanças aliadas a melhoria da educação. Destarte, observa-se a deficiência educacional brasileira, pois nas salas de aula não é promovido um estudo da história, e da cultura africana, e não há valorização de esportes como a capoeira. Assim, as novas gerações são privadas do conhecimento dessa cultura, e limitadas ao estudo da história da europeia, e ocorre a perpetuação desse ciclo de ignorância e descaso, pois, onde não há conhecimento há preconceito.
Portanto, urge desenvolver ações para mudar esse cenário. Para tanto, cabe ao Estado por meio do poder Legislativo em conjunto ao Ministério da Educação (MEC) -órgão responsável pelo desenvolvimento e aplicação de politicas educacionais no Brasil-, desenvolver medidas para a valorização da cultura afro-brasileira, através do fortalecimento de leis contra o racismo, e a garantia de suporte a práticas de origem africana como a capoeira e cultos religiosos, além de campanhas conscientizadoras em escolas, e a inserção de uma disciplina na grade curricular que estuda a história do povo africano no Brasil, a fim de promover o conhecimento desse conteúdo aos estudantes. Dessa forma, será possível promover a valorização da herança africana e propiciar uma sociedade igualitária.