A música "Imagine", do cantor britânico John Lennon, retrata uma sociedade unida com vistas a alcançar o progresso coletivo. Contudo, fora da canção por mais que a harmonia social seja indispensável para o desenvolvimento de uma nação, os desafios para a valorização da herança africana no Brasil dificultam a concretização do cenário idealizado pelo artista. Logo, faz-se fundamental a análise das principais causas: a falha legislativa e a desigualdade social. Nesse cenário, denuncia-se a ausência de uma legislação eficaz referente aos africanos brasileiros. Acerca disso, na obra "O Cidadão de Papel", o escritor Gilberto Dimenstein destaca que nem sempre as leis presentes nos documentos oficiais nacionais são cumpridas. Nesse viés, na lógica de Dimenstein, os afro-descendentes podem ser definidos de "papel", dada a escassez de projetos eficazes que visem garantir os direitos básicos, como a preservação cultural. Entretanto, tal prerrogativa não é posta em prática, visto que os costumes e ideologias dos afro-brasileiros são negligenciados e reconhecidos com uma visão estereotipada pela legislação vigente, o que corrobora a distorção das crenças e culturas africanas. Isto, consequentemente, trará prejuízos irreversíveis à riqueza do legado histórico deixado pelos mesmos. Desse modo, ao invés de promover o bem-estar desses indivíduos, o segmento estatal viabiliza a manutenção da sua desvalorização. Ademais, observa-se a influência da desigualdade social como fundamentadora do revés. Nesse sentido, sob a ótica do sociólogo brasileiro Betinho, o desenvolvimento humano só será efetivado quando a sociedade civil seguir alguns princípios, como igualdade. No entanto, a assimetria social gera barreiras para a concretização desses ideais no Brasil, uma vez que há uma grande disparidade de concentração de renda entre as classes sociais, o que intensifica o precário ensino-aprendizagem dos alunos de escolas públicas. Isto, com efeito, prejudica o conhecimento das raízes culturais brasileiras, dado que o Poder Público não investe na educação básica, como por exemplo, em matérias voltadas para o estudo da herança cultural na formação da identidade nacional. Como consequência, os estudantes de baixa renda, principalmente os de periferias, são excluídos sobre a importância desses povos para o fortalecimento dos costumes da nação verde-amarela. Assim, enquanto a discrepância socioeconômica não for combatida, será impossível efetivar os valores defendidos por Betinho. Portanto, convém combater a falha legislativa e a desproporção coletiva. Dessa forma, o governo- órgão de maior hierarquia administrativa- deve promover a criação de museus arqueológicos e a inserção de disciplinas extracurriculares de conservação das crenças africanas, por meio de incentivos fiscais e políticas públicas, com o intuito de assegurar a preservação dos conhecimentos culturais afro-brasileiros por toda a população, independentemente de classe social. A sociedade brasileira, então, poderá testemunhar o progresso coletivo como afirma a música "Imagine".