Em 1988, o Congresso Nacional promulgou um documento marco da redemocratização do Brasil: A Constituição Federal, cujo conteúdo assegurava a todos os cidadãos liberdade e igualdade para demonstrar suas culturas, crenças, hábitos e tradições. Todavia, alguns grupos sociais não usufruem desse direito e por vezes são discriminados e silenciados, como ocorre em populações quilombolas que enfrentam desafios para sobreviver e manter suas tradições. Dito isso, é notório a existência no Brasil de dificuldade para valorização da herança africana e isso se deve ao preconceito enraizado na sociedade e a inoperância do Estado.
Em primeira análise, a população negra que carrega a origem africana sofre com a discriminação perpetuada na sociedade brasileira. Nesse sentido, o jornal espanhol “Marca” publicou uma matéria sobre o cotidiano do ex-jogador negro da seleção brasileira e Inter de Milão, Adriano “Imperador”, na qual aborda de maneira depreciativa sua rotina na Vila Cruzeiro – comunidade fluminense -, local habitado predominantemente por pessoas com baixo poder aquisitivo. Assim como descrito pelo jornalista, infelizmente, o preconceito que atinge os negros, mesmo sendo uma personalidade, reverbera sobretudo na população negra e pobre, motivo pelo qual locais que carregam uma discriminação histórica na sua construção, a exemplo da criação das favelas no Rio de Janeiro, enfrentem dificuldades e inibição no processo de valorização das suas heranças.
Ademais, a ineficácia de políticas estatais que garantam a equidade cultural corrobora para a desvalorização da herança africana no Brasil. Nesse contexto, o escritor Gilberto Dimenstein em sua obra “Cidadão de Papel” destaca o grande aparato legislativo do país, porém ele só existe na teoria. Dessa forma, assim como descrito por Dimenstein, o Brasil possui leis que estimulam o desenvolvimento cultural, como a Lei Roaneult que oferece benefícios fiscais à financiadores de obras culturais, porém o que se observa é um direcionamento maior de valores para obras tidas como culturas “tradicionais” em detrimento de obras com menor apelo público com as obras culturais negras.
É necessário, portanto, que o Ministério da Igualdade Racial – responsável pelas políticas de igualdade entre os povos – desenvolva projetos que reafirmem a importância da valorização da herança entre os povos brasileiros, como a africana, através de campanhas de conscientização na televisão e redes sociais, com o propósito de destacar a necessidade do respeito e reafirmação da história brasileira.