No livro "Utopia", do escritor inglês Thomas More, é retratada uma realidade perfeita, onde o corpo social se padroniza pela ausência de conflitos. Entretanto, o cotidiano brasileiro antagoniza com a ideia da obra, uma vez que há desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Assim sendo, é válida a reflexão acerca da negligência estatal e do silenciamento midiático, os quais são agravantes principais da problemática.

Precipuamente, é fulcral apontar a negligência estatal como responsável pela existência desses desafios. Sobre isso, o filósofo Thomas Hobbes afirma que é dever do Estado garantir o bem-estar social. Contudo, a realidade nacional contrasta com o pensamento de Hobbes, já que o Estado não assegura a preservação das culturas de matriz africana, que são constantemente destruídas. A exemplo disso, vale o resgate à época da ditadura militar, onde, naquele período, diversos terreiros de religiões afro-brasileiras foram destruídos sob ordem governamental, levando toda a história, a cultura e a arte desse grupo marginalizado às cinzas. Ademais, é imprescindível ressaltar que nos últimos vinte anos, essa prática de destruição continua a vigorar, e os culpados por tal ação lamentável muitas vezes não são presos, e, quando são detidos, levam penas leves, que não condizem com a gravidade de suas ações, salientando novamente a incapacidade da esfera governamental em valorizar a herança afro-descendente. Percebe-se assim, a urgência de mudar esse quadro lastimável.

Outrossim, o silenciamento midiático corrobora para que a desvalorização da herança africana continue. Sob esta visão, o professor Afonso de Albuquerque descreve que a mídia atua como o Quarto Poder, por isso, deve ser vista de maneira conceitual, uma vez que é responsável por grandes mudanças sociais. Logo, ela deve usar seu poder de influência para promover debates e projetos nos canais televisivos que busquem dar visibilidade à cultura africana, fazendo com que a população seja mais consciente sobre a importância dessa vertente cultural, passando a valorizá-la mais. No entanto, a mídia usa seu grande alcance para destacar programas de entretenimento em massa, que afastam a população da situação desafiadora que os afro-descendentes passam para preservar suas heranças imateriais ancestrais, silenciando e omitindo da coletividade esse entrave que, apesar de antigo, faz-se presente na contemporaneidade. Diante disso, a dignidade torna-se apenas um desejo onírico.

Infere-se, portanto, que a valorização da herança africana no Brasil possui muitos imbróglios a enfrentar. Acerca disso, com o objetivo de eliminar essa situação, o Governo Federal — principal responsável pela harmonia social — deve, através do Poder Legislativo, criar leis que tornem a penalidade de quem comete crimes contra as heranças africanas mais rígida, a fim de que tais infratores não desrespeitem a cultura sob a certeza da impunidade. Além disso, os veículos midiáticos podem, juntamente com o Ministério da Cultura, implementar programas que discutam a relação entre a herança africana e a presença dela no dia a dia e na construção da identidade brasileira, com o objetivo de que esse desafio não seja mais desacreditado entre as camadas sociais. Feito isso, espera-se que o legado africano seja, finalmente, valorizado, de modo a fazer valer a utopia idealizada por More na sociedade verde e amarelo.

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@Katsmoking @nicknekard @Beatriz67 @PamelaAP @Rayelli

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