Em "Torto Arado", Itamar Vieira Júnior ao retratar a história das irmãs Belonísia e Bibiana faz uma crítica a herança do passado colonial. Na obra, os personagens são vítimas de intolerância ao praticarem uma religião de matriz africana. Analogamente, Ao transcender o viés literário, percebe-se que, infelizmente, a situação apresentada pelo autor se insere na sociedade contemporânea, haja vista os desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Nesse sentido, não se pode hesitar: A negligência educacional e o preconceito imposto pelo passado eurocêntrico, são, sem dúvida, os maiores empecilhos para a garantia de uma cidadania plena a esses indivíduos.

Diante desse contexto, é imperioso pontuar que o descaso das Instituições educacionais, é um fator agravante da problemática. Isso acontece porque, como defendido pelo filósofo Pierre Bourdieu em sua teoria da "Violência Simbólica", a escola tende a desprezar o capital cultural de uma parcela dos alunos em prol da imposição dos costumes das classes mais privilegiadas. Em outras palavras, é nítido a relevância da educação na estimulação do senso crítico e humanitário, porém esses ambientes continuam a marginalizar a tradição e história afro-brasileira, a exemplo das discussões pouco aprofundadas e estereotipadas em relação a esses grupos. Logo, não é justo que um país que preza pelos avanços sociais como defendido pela Constituição Cidadã de 1988, negligencie esses povos.

Ademais, é notório que a continuidade do pensamento eurocêntrico é o sustentáculo central para a incidência da adversidade em pauta. Nesse raciocínio, Boaventura de Souza afirma haver, no Brasil, uma espécie de "Colonialismo Insidioso", isto é, a permanência de estruturas de dominação que se disfarça em meio aos avanços sociais, mas continua a denegrir os direitos das camadas mais vulneráveis. A esse respeito, é necessário a desconstrução dos paradigmas preconceituosos, já que é evidente a importância histórica afrodescendente para a formação das raízes culturais e do sentimento de nação como estudado pelo professor Ariano Suassuna. Assim, é relevante a valorização da cultura desses povos.

Infere-se, portanto, medidas para reverter a problemática. Para isso, é fundamental que o Poder Executivo, mais especificamente o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura criem um projeto que estimule a preservação das heranças africanas. Tal ação ocorrerá por meio da implementação de palestras e apresentações artísticas nos espaços públicos e escolares que mostrem todo aglomerado sociocultural, desde danças, tradições, culinária e figuras representativas, a fim de lutar contra os preconceitos e afirmar a importância da história afro-brasileira. Só assim, o Brasil será um país justo e igualitário que valoriza suas tradições e origens.