Em sua obra "As veias abertas da América Latina", Eduardo Galeano afirma que "A primeira condição para mudar a realidade é conhecê-la", tal prerrogativa permite a análise dos pilares que a contemporaneidade se encontra, conforme observado nos desafios enfrentados para a valorização da herança africana em território nacional. Dessa forma, cabe ressaltar as problemáticas que a temática aborda, como a negligência governamental e preconceito social.

Primeiramente, salienta-se a ausência de agentes eficazes como um contratempo que dissipa a questão. À vista disso, o filósofo Bauman desenvolveu o conceito de "Instituição Zumbi", em que um órgão perde sua função, causando desequilíbrios no corpo social. Assim sendo, o raciocínio permite compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da Sociologia, pois sua função de garantir um ambiente propício ao consumo cultural das matrizes transmitidas aos seus descendentes não está sendo realizada, causando o desaparecimento gradual de manifestações que enalteçam a cultura africana. Desse modo, observa-se consequentemente o aumento do descaso popular em relação a qualquer representação exaltando tais conceitos e gerando o apagamento histórico da contribuição das populações ascendentes na história do Brasil.

Em segunda análise, cabe ressaltar os conceitos negativos preestabelecidos no tecido social como catalisador do óbice. Nesse sentido, o sociólogo Durkheim criou o conceito de "Sociedade Unidimensional", em que uma nação apresenta ideários unilaterais em consequência da supressão do pensamento crítico e imposição de uma visão conformista. Posto isso, compreende-se que tal preceito define a situação atual acerca do eixo abordado, pois por conta de preconceitos derivados de relações históricas, muitos cidadãos principalmente os de classes mais altas- encaram a valorização da herança afro como uma decisão negativa, já que a mesma vai contra os ideais ensinados pelos seus antepassados, fortalecendo então as barreiras criadas que impedem a condecoração da herança. Dessa maneira, nota-se por cunho popular a normalização acerca do desaparecimento de quaisquer instigações de preservação cultural ou social, perpetuando na estagnação da sociedade no conceito descrito pelo sociólogo.

Portanto, diante dos desafios supramencionados, cabe ao governo, órgão de maior autoridade pública, realizar campanhas públicas que promovam a curiosidade e instiguem os artistas especializados no meio a fortalecerem as obras que buscam a democratização da herança deixada por tais povos por intermédio de programas de apoio visando a manutenção do legado em território nacional. Assim, tornando o país cada vez mais justo e promovendo o conhecimento de sua realidade, como Galeano disserta.