Na obra "Utopia", do escritor inglês Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita, na qual o corpo social padroniza-se pela ausência de conflitos, desde que a visibilidade e a razão sejam os pilares. No entanto, o que se observa na realidade contemporânea é o oposto do que o autor prega, uma vez que a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil apresenta barreiras, as quais dificultam a concretização dos planos de More. Esse cenário antagônico é fruto tanto da inefetividade das leis voltadas para o público feminino, quanto da cultura machista que perpetua até os dias atuais.

A princípio, é fulcral pontuar que a inócua das leis deriva da baixa atenuação dos setores governamentais, no que concerne à criação de mecanismos que coíbam tais recorrências. Segundo o pensador Thomas Hobbes, o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta de atuação das autoridades, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas.

Além disso, é imperativo ressaltar a cultura machista como promotor do problema. De acordo com uma entrevista feita pelo G1, mais de 75% dos homens entrevistados não sabem exercer atividades domésticas, enquanto 95% das mulheres ajudam em casa desde os seus 10 anos. Partindo desse pressuposto, é notório que os homens, devido à cultura machista a qual impõe que é as mulheres as quais precisam saber fazer os afazeres domésticos, não foram ensinados desde cedo a fazê-los, ao contrário das mulheres. Tal atitude implica ainda mais para tal preconceito passar de geração a geração.

Constata-se, portanto, a necessidade de atenuar o quadro vigente. Para isso acontecer, o governo, órgão responsável por garantir a condição e existência de todos, deve criar leis mais eficazes, por meio de projetos e investimentos, a fim de sanar a vulnerabilidade enfrentada por esse grupo. Paralelamente, as escolas, em parceria com os meios de comunicação, devem promover palestras e comerciais, que busquem conscientizar a população acerca do estigma sobre o trabalho de cuidado da mulher, salientando que isso também é responsabilidade do homem. Somente assim, os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, será revertido e sucederá à Utopia de More.