No filme "Ensinando a viver" acompanhamos a história de John, um escritor solitário que decide adotar uma criança. Ao conhecer um garoto que pensa ter vindo de marte, ele se apaixona pela personalidade inusitada dele e resolve desenvolver uma relação com o menino. Porém, apesar do sentimento paterno que ele possui, diversas dificuldades se apresentam ao tentar ensinar o garoto a encarra o mundo como ele é, e não como sua fantasia propõe. O drama expõe um panorama que diverge da realidade brasileira, pois podemos constatar que a adoção, principalmente de crianças mais velhas, ainda não é comumente praticada no Brasil, fato que se deve tanto ao receio dos pais acerca da criação e educação dos pequenos, quanto a visão social imposta sobre a temática.

Primeiramente, podemos constatar que a adoção, prática já escarça na sociedade, é dificultada quando associada ao acolhimento de crianças mais velhas. Ao adotar uma criança mais velha, os pais ficam suscetíveis a receber crianças que já possuem uma educação prévia, o que pode não seguir os preceitos esperados por aquele núcleo familiar, fato que tende a assustá-los. Isto por que, segundo os preceitos populares, é mais dificil doutrinar crianças crescidas quando comparado a bebês, ainda em processo de desenvolvimento cognitivo. Outro agravante é a personalidade das crianças, que muitas vezes não é compreendida ou aceita pelos futuros tutores, que preferem os pequenos e moldáveis a perpassar as barreiras naturalmente criadas por crianças que já sofreram e sofrem pelo abandono.

Além deste, temos a visão social como um dos maiores empecilhos para a adoção no país, que se deve ao pensamento popular que associa essa prática a incapacidade de gerar filhos. Devido a isso a adoção se tornou apenas uma opção para casais inférteis que desejam ter filhos, deixando de ser uma ponte para que crianças encontrem famílias onde possam ser criadas e amadas, que configura seu real significado. Dessa forma, vemos que a sociedade vive sobre um estigma que exalta o culto a genética e prejudica o acolhimento ao representá-lo como impensável para qualquer um que possa ter seus próprios filhos naturalmente.

Conclui-se que para enfrentar este problema se faz necessário a colaboração entre o Governo Federal e a mídia, buscando expandir o acesso à informação sobre o processo de adoção e seus benefícios tanto para a criança como para as famílias que as acolhem, o que pode ser feito a partir de campanhas de conscientização e projetos sociais. Essas medidas contribuiriam para diminuir as concepções errôneas sobre o tema, amplificando o número de adoções e garantindo um futuro melhor e cheio de amor para as crianças desse país.