Segundo o pensador bielorrusso Lev Yvgotsky, uma população, ao interagir em um meio sociocultural, tende a se desenvolver de maneira humanitária e cognitiva. Hodiernamente, entretanto, é possível afirmar que a sociedade brasileira está cerceada ao conhecimento, uma vez que a persistência de problemáticas nas relações sociais, como o racismo estrutural, além de impossibilitar a representatividade de figuras e tradições africanas no Brasil, contribui para o apagamento gradual de tais legados culturais. Dessa maneira, a invisibilidade acerca dos entraves para a valorização da herança africana no país deve ser discutida.

Em uma primeira análise, a ausência de Políticas Públicas que possibilitem o reconhecimento dos legados transmitidos pelo povo africano em diferentes populacionais atua como fator divergente na luta por uma sociedade mais inclusiva. Conforme o pensador polonês Zygmunt Bauman, uma organização, ao negligenciar suas funções primordiais, é caracterizada em um estado de "morto-vivo". Diante disso, é correto afirmar que o Estado brasileiro é correspondente a esse conceito, posto que o descaso com suas obrigações é comprovado pelo aumento no número de afrodescendentes que não se identificam ou possuem aversão à cultura de seus ancestrais e pela desvalorização de práticas afro-brasileiras na modernidade. Logo, em vez de promover soluções eficazes, a falta de atitudes auxilia a perpetuar a invisibilidade cultural de figuras africanas no Brasil.

Outrossim, a presença de estigmas que preconizam a importância da transmissão de saberes intergeracionais de matriz africana colabora para a formação de uma nação gradualmente menos desenvolvida. De acordo com o ex-presidente brasileiro Tancredo Neves, a cidadania não é proporcionada por ações esporádicas, mas sim por atos permanentes em prol da comunidade. Sob esse prisma, pode-se caracterizar a sociedade brasileira como apática, visto que a ausência de movimentos sociais que busquem ressignificar os legados gerados pelo povo africano e difundir tais modificações em um meio socioeconômico auxilia a estruturalizar o racismo e, posteriormente, a estagnação do desenvolvimento social e cultural. Assim, evidencia-se que a presença de tais preceitos atua como fator favorável à obsolescência dos fatos históricos e das conquistas adquiridas pelos africanos no país sul-americano.

Portanto, urgem medidas estatais que proporcionem a valorização e o reconhecimento das heranças africanas no Brasil. Para isso, cabe ao Ministério da Cultura, em colaboração com o Ministério do Planejamento, fundar locais que possam servir como espaço para a manifestação cultural africana, de acesso público e gratuito a todos cidadãos brasileiros, com fins de atenuar o apagamento gradual e a disparidade no que tange a questão socioeconômico, oriundos do período colonial brasileiro. Desse modo, a sociedade brasileira poderá se desenvolver de maneira humanitária e consciente.