O contexto da obra cinematográfica “Nos Tempos do Imperador”, exibida pela emissora Rede Globo, retrata o Brasil escravocrata, em que os negros sofriam inúmeros tipos de violência e perseguições. Na trama, os negros não sofrem apenas com a escravidão, mas também com a repressão de suas culturas e religiões de matrizes africanas. Próximo da ficção, a herança cultural deixada pelos africanos ao Brasil, sofre inúmeros desafios para ser reconhecida e valorizada. Dentre eles, destacam-se o padrão de beleza eurocêntrico impregnado na sociedade brasileira e a abordagem sensacionalista das escolas sobre o assunto.
A princípio, nota-se o padrão de beleza eurocêntrico como importante desafio para a valorização da herança africana no Brasil. De acordo com o filósofo Bourdieu, o “habitus” refere-se a linha de pensamento ideológica e crítica imposta pela sociedade, que limita o ser a um padrão de pensamento e comportamento. Desde o início do século XVI, quando os portugueses chegaram ao Brasil, a cultura européia foi instaurada na sociedade, sendo vendida pelos lusitanos como “a mais bela” e “a mais bonita”. Esse caso de ‘habitus histórico’ contribuiu para que a sociedade brasileira atual valorize os padrões de beleza eurocêntricos ao mesmo tempo que esquece e apaga da história a herança cultural africana.
Além disso, a abordagem sensacionalista feita pelas escolas sobre a história do povo africano, é outro importante desafio para valorizar a herança cultural. Segundo Conceição Evaristo, em uma entrevista a TV Cultura, a história do povo negro abordada nas escolas, retrata apenas o cenário de violência causada pela escravidão, deixando de lado as ricas práticas culturais trazidas da África. Essa abordagem feita pelas escolas brasileiras, mostra apenas um lado da história, evidenciando os atos barbáros feitos pelos senhores de escravos e deixando de lado as contribuições medicinais, artísticas e musicais deixadas pelos afrodescendentes.
Sendo assim, para enfrentar os desafios do padrão de beleza eurocêntrico impregnado na sociedade brasileira e da abordagem sensacionalista das escolas, é necessário atuar nestes dois campos. Em primeiro lugar, o Ministério da Cultura, deverá criar o programa “Meu país, Minha cultura”, por meio de parcerias com canais de telecomunicação, que deverá transmitir, em horários estratégicos, documentários sobra a cultura africana, o que permitirá que a população passe a reconhecer e, portanto, romper com a cultura eurocêntrica. Em segundo lugar, o Ministério da Educação, deverá criar o projeto “Conhecendo meu país”, por meio de fundos governamentais, onde professores serão orientados a debater nas salas de aula sobre a cultura africana, permitindo que os jovens conheçam a herança deixada pelos afrodescendentes.