Na música “A carne”, interpretada por Elza Soares, é retratada a sub-representação e a violência direcionada à grupos afro-descentes e aos seus costumes artísticos. Assim como na obra, fora da canção, a opressão e a invisibilidade sofrida por esse povo — exacerbada pela confinação dos traços culturais africanos na sociedade hodierna — torna explícita a necessidade de meios para combater a desvalorização da herança africana no Brasil. Nesse sentido, tal conjuntura é ocasionada tanto pela alienação no estudo da história quanto a falência das instituições responsáveis.

Sob esse viés, cabe analisar o desinteresse estudantil como principal causa desse revés. Conforme o educador Paulo Freire, “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. Nesse contexto, a ausência de estímulo ao aprendizado no que tange à miscigenação ocorrida em território brasileiro durante o período colonial, assegura o apagamento de rituais e celebrações trazidos por povos da África, haja vista que, diversos festejos, receitas e dialetos comumente disseminados entre brasileiros são heranças de escravos. Por conseguinte, a população infanto-juvenil desenvolve-se com lacunas em seus conhecimentos culturais, minando a sua capacidade de incentivar suas futuras gerações a conhecer e manter viva a relação com seus antepassados e tornando-os incapazes de mudar o mundo assim como defende Paulo Freire.

Ademais, a ineficiência dos institutos responsáveis por disseminar a memória cultural no Brasil agrava esse entrave. Sob essa ótica, Zygmunt Bauman em seu conceito de “Instituição Zumbi” descreve órgãos que, embora existentes, perderam sua função social. No contexto do legado africano, diversas instituições — sobretudo as educacionais — falham em divulgar e visibilizar as tradições transmitidas por gerações passadas, confinando-as e tornando inevitável o seu esquecimento com o passar do tempo. Consequentemente, torna-se inevitável que os conhecimentos, costumes e crenças culturais trazidos da África venham a desaparecer com o passar dos anos.
Destarte, é crucial que medidas proativas sejam tomadas para reverter esse cenário. Para tanto, cabe ao Governo Federal aliado ao Ministério da Educação promover eventos escolares, influenciando o aprendizado de traços culturais afro-descendentes por meio de reformas na grade curricular a fim de conscientizar sobre a origem e história da cultura de seu país. Paralelamente, ao organizar exposições artísticas em todo território nacional, divulgando-as mediante postagens patrocinadas em redes sociais, anúncios em jornais de televisão e palestras para todo o corpo estudantil, o Estado não apenas cumpre com seu papel, como também, garante a formação de uma nação mais justa e equitativa, evitando casos como os retratados na canção “A carne”.