"Você não sabe o que pode fazer o nego". A canção popular brasileira "Mãos pelos pés", frequentemente associada a manifestações culturais como a capoeira, exalta as tradições e a poesia advindas do continente africano. Contudo, a realidade distoa da música num ponto: a herança africana no Brasil não é devidamente valorizada, sendo na verdade muitas vezes marginalizada, tanto pela mídia quanto pela sociedade.
Desde os primórdios do processo de colonização da nação, a cultura africana tem sido oprimida. No período colonial, a feijoada — que figura entre os principais pratos da gastronomia brasileira — era feita com restos de alimentos, uma forma de humilhar os escravos. O determinismo social fora outro fator excludente das tradições africanas, onde a sociedade tinha como senso que negros periféricos não poderiam ser cultos.
Além dos fatos citados, nos dias contemporâneos, com a evolução dos estudos sociológicos e dos recursos audiovisuais, problematizaram-se novas questões como o preconceito cinematográfico, situação em que a mídia aborda a população negra e suas culturas de maneira supérflua, pobre e marginalizada, e também, a intolerância religiosa, como exemplificam as perseguições e homicídios — motivados pelo narcopentecostalismo — contra religiosos de matriz africana, no Complexo de Israel, no Rio de Janeiro.
Diante disso, é possível inferir que, na atual conjuntura social brasileira, é crucial que a máquina pública, juntamente ao Ministério da Educação, promova reformas na base comum curricular, incluindo e valorizando as heranças africanas aqui presentes, ensinando aos jovens a se orgulharem de suas origens. Vêem-se necessários também investimentos estatais para serem aplicados na mídia, incentivando-a a produzir conteúdos que valorizem as tradições afro-brasileiras, bem como para tornar o código penal mais rígido em questões como o racismo, desse modo, obtendo-se uma nação justa, democrática, diversa e igualitária.