O livro "O mágico de oz", escrito por L. Frank Baum, retrata a ficcional "estrada dos tijolos amarelos", que significa um percurso em que aqueles que nele caminham realizam um desejo de avanço em áreas de suas vidas. Em vista disso, é possível dizer que o Brasil não percorre essa estrada, uma vez que não há progresso acerca dos desafios para a valorização da herança africana. Nesse âmbito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: a omissão estatal e o preconceito enraizado.

Nesse cenário, nota-se que falta compromisso das autoridades públicas, o que evidencia o descaso governamental. Sob essa ótica, Jean-Paul Sartre - em sua obra "O ser e o nada" - desenvolveu o conceito de "acomodação social", segundo o qual há alguns assuntos delicados que são excluídos da apreciação coletiva e se tornam temas silenciados na sociedade. Nesse viés, é válido destacar que os empecilhos para assegurar o legado africano no Brasil representam um assunto negligenciado, haja vista a ausência de orientação do Estado, visto que não há abordagem coerente a respeito da importância da cultura africana e o seu impacto na atual identidade brasileira - medida que promove a igualdade e valoriza a trajetória de um povo. Assim, enquanto a falta de clareza sobre o problema se mantiver, o Brasil continuará vítima de assuntos pospostos.

Além disso, vale salientar que o corpo social brasileiro não tem se mobilizado de modo efetivo contra o preconceito enraizado. Sob essa lógica, o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, em sua obra "Casa-grande e senzala", desenvolveu a tese de que a identidade do brasileiro foi construída a partir do senhor de engenho - branco, patriarca e católico. Nesse sentido, ocorre que aqueles que fogem das características padronizadas do Brasil colônia são vítimas de preconceito enraizado desde o século XVI e se manifesta na atual sociedade brasileira em forma de racismo, o que perpetua a intolerância do período colonial e representa um grave problema. Desse modo, enquanto nao houver meios que combatam a acentuação do preconceito na sociedade, o Brasil permanecerá na realidade intolerante do tempo de colonização.

É evidente, portanto, que medidas devem ser tomadas a fim da diminuição dos empecilhos para a valorização da herança africana no Brasil. Logo, urge ao Estado, união política com o poder de corrigir problemas sociais, promover campanhas e palestras nos grandes centros urbanos e em diversos difusores da mídia, como a TV Brasil e a rádio nacional, por meio de profissionais aptos para debater acerca do tema para que deixe de ser um assunto negligenciado. Ademais, é necessária a adoção de políticas públicas eficazes que combatam a perpetuação do preconceito na sociedade. Feito isso, o Brasil fará parte da ficção de L. Frank Baum, com o seu avanço na estrada dos tijolos amarelos.