No filme "Meninas Não Choram", é retratada a história da garota Pipa, que com um futuro promissor, vê seus planos interrompidos após receber o diagnóstico de leucemia e uma internação inesperada. Fora da ficção, percebe-se que, no Brasil, os desafios para enfrentar o câncer ainda configuram uma questão a ser sanada. Logo, é importante analisar as causas desse entrave, dentre as quais se destacam a desigualdade no acesso aos serviços de saúde e o baixo nível de conscientização preventiva.
Nessa perspectiva, é indubitável que a desigualdade no acesso aos serviços de saúde perpetua os desafios do enfrentamento do câncer no Brasil. Segundo o geógrafo David Harvey, a qualidade da vida urbana virou uma mercadoria, há uma aura de liberdade de escolha de serviços, desde que se tenha dinheiro para pagar por isso. Nesse contexto, percebe-se que o acesso à qualidade está relacionado à condição financeira. Além disso, a ineficiência do Estado nos serviços de saúde contribui ainda mais com esse cenário, uma vez que a dificuldade para receber o diagnóstico e tratamentos especializados leva a uma mortalidade mais alta e uma menor qualidade de vida para os pacientes com câncer. Nesse viés, é indispensável que o Estado elabore medidas para combater tais desafios, como investir em estruturas em regiões menos desenvolvidas.
Ademais, constata-se que o baixo nível de conscientização preventiva, sobretudo dos homens, agrava essa realidade. Diante desse exposto, a falta de informação leva a população masculina a adotar comportamentos nocivos à saúde, como não realizar exames periódicos, atividades físicas e o consumo de substâncias cancerígenas (tabaco). Nesse contexto, tais costumes são resultado de um enraizamento de uma sociedade machista que exige do homem uma postura de invulnerabilidade. Assim, esses indivíduos veem o cuidado com a saúde como uma fragilidade e se recusam a realizar o exame de próstata, uma vez que há a sexualização de um procedimento médico. Desse modo, é necessário que haja uma mudança na mentalidade da parcela masculina.
Destarte, faz-se necessária a implementação de medidas para enfrentar os desafios do câncer no Brasil. Portanto, cabe ao governo, em parceria com o Ministério da Saúde, investir na infraestrutura, criando postos e hospitais em áreas remotas e regiões carentes, haja vista a necessidade de um maior acesso aos serviços de saúde. Além disso, deve disseminar conhecimentos a população, por meio de campanhas socioeducativas, de modo que abordem os perigos do câncer e suas formas de prevenção, a fim de reduzir a mortalidade causada por tal doença, e ainda desenvolver projetos que promovam uma busca ativa e acompanhamento individualizado, para superar eventuais barreiras que dificultem o processo e, assim, promover uma melhor qualidade de vida à população.