A animação “Wall-e”, produzida pelo estúdio Pixar, evoca uma representação distópica e futurista, em que o planeta terra encontra-se completamente devastado e inabitado pós anos sofrendo os impactos da intensiva exploração antrópica. Reportando essa narrativa à realidade, verifica-se uma crescente subordinação mundial às fontes energéticas, sobretudo de matriz não renovável, que segue acompanhando os avanços da humanidade, comprometendo, entretanto, o meio ambiente ao atender às necessidades globais, desconsiderando o caráter finito dos seus recursos. Sob esse viés analítico, mostra-se imperioso articular estratégias para equilibrar o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental, visando reduzir a dependência de combustíveis fósseis, sem abdicar do compromisso com as demandas econômicas e sociais.
À luz de uma análise preliminar, cumpre reconhecer a dependência de combustíveis fósseis como estruturante para a manutenção desse quadro danoso. Nessa perspectiva, o “Princípio da Responsabilidade”, proposto por Hans Jonas, defende o comprometimento ético e intergeracional para a efetivação de uma gestão adequada dos recursos naturais, tal qual uma mentalidade de investimento prospectivo. Em contrapartida, observa-se, na prática, uma incorrespondência aos preceitos de Jonas, tendo em vista que os combustíveis fósseis- principal fonte energética, segundo dados da Agência Internacional de Energia- respondem por significativa parte das emissões de gases de efeito estufa, os quais corroboram danos à natureza, como o aquecimento global e mudanças climáticas, fenômenos esses que intervêm em todo o ciclo biológico terrestre, justificando a relevância da preconização do ODS-12 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que busca assegurar o consumo e produção responsáveis. Isso posto, urge que sejam realizadas mediações capazes de alinhar a conjuntura hodierna à meta almejada no ODS-12.
De maneira complementar, evidencia-se a íntima relação da questão ecológica vigente com as demandas econômicas e sociais. À vista disso, David Harvey, através da sua ideia de “Enigma do Capital”, questiona como o sistema capitalista sobrevive às suas próprias crises, provocadas por sua expressiva lógica expansiva e insaciável, que atribui valor de mercado a todas as dimensões existenciais, ou seja, qualquer elemento da vida torna-se passível à mercantilização. Partindo dessa premissa, é notória a influência que exercem as matrizes energéticas sobre o cenário geopolítico global, moldando relações de poder e armando disputas pelo controle hegemônico que conferem tais riquezas naturais. Desse modo, é de suma importância combater a lógica capitalista responsável por intensificar o uso predatório, realizado especialmente pelas grandes potências, do patrimônio ambiental.
Infere-se, portanto, que providências devem ser tomadas a fim de consolidar uma interação harmônica entre o progresso socioeconômico e a preservação ambiental. Assim, cabe ao Poder Executivo Federal, com destaque para o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, promover mudanças estruturais mediante a adoção do Projeto de Economia Verde, que consiste em uma proposta de modelo econômico compatível com a sustentabilidade, pautando-se em princípios como baixo carbono, eficiência energética e inclusão social, satisfazendo as exigências sociais, econômicas e ambientais de forma integrada. A partir dessas medidas, será possível prevenir a concretização de panoramas análogos ao apresentado pela animação “Wall-e”.