No filme brasileiro “Sonhos roubados”, é retratado o cotidiano de três meninas de uma comunidade carente no Rio de Janeiro, que têm seus corpos explorados para conseguir contribuir com a renda de suas famílias. Essa realidade é análoga a de muitas crianças brasileiras vítimas de exploração sexual, fator que fere os princípios de liberdade, respeito e dignidade, além de gerar inúmeras consequências físicas e psicológicas, criando a necessidade de intervenção. Logo, para enfrentar esse cenário, cabe a análise de seus principais desafios: as questões culturais e a desassistência do Estado.
Nesse viés, cabe a análise da omissão governamental. Segundo o filósofo Zygmunt Bauman, uma “Instituição zumbi” é aquela que existe fisicamente, mas deixou de cumprir o seu papel. Sob essa ótica, o Estado brasileiro age como uma “Instituição Zumbi”, uma vez que, não há uma mobilização real para combater a exploração sexual e como consequência, há um aumento no número de vítimas todos os anos. Prova disso é um dado estatístico levantado no ano de 2023, que indicou uma elevação na quantidade de denúncias em 77% em relação ao ano anterior. Desse modo, essa situação deixa inúmeras sequelas na população infantil.
Além disso, deve-se pontuar a visão social sobre o problema. No documentário “Um crime entre nós”, é retratado o dia-a-dia de crianças e adolescentes que são submetidas a abusos em pequenos hotéis e bares, enquanto outras pessoas ao redor apenas assistem à situação, sem tomar nenhum tipo de posicionamento contra e, em sua maioria, culpam as vítimas. De fato, esse comportamento pode ser observado na população brasileira devido a valores enraizados na sociedade, como a falta de responsabilização dos autores desses crimes sexuais, que ficam impunes enquanto as vítimas sofrem as consequências como doenças sexualmente transmissíveis, hematomas e gestações de risco para a pessoa que gesta e para o feto. Logo, fica nítida a relação entre a perpetuação desse cenário e o olhar do corpo social.
Portanto, é imperativo combater a exploração sexual infantil no Brasil. Para tanto, cabe ao Governo Federal, em ação conjunta ao Ministério da Educação, implementar nas escolas e creches a educação sexual, por meio de livros e aulas que ensinam, conforme a faixa etária, sobre consentimento e órgãos íntimos de forma didática, para quebrar tabus sobre o corpo humano e instruir as crianças a identificarem e denunciarem possíveis abusos. Somente assim, será possível afastar os acontecimentos retratados no filme “Sonhos Roubados” da realidade do Brasil.