O período colonial brasileiro, datado do século XVI ao século XIX, fora marcado pelo tráfico de escravizados oriundos do continente africano, os quais, ainda que sob condições adversas, trouxeram consigo sua cultura e suas manifestações artísticas. Não obstante, ainda que com a abolição da escravatura pela Lei Áurea de 1888, a inserção da chamada "africanidade" no Brasil apresenta desafios para a valorização de sua herança no país. Sob tal conjuntura, a marginalização e apatia social, concomitantemente à negligência governamental, atuam como fatores potencializantes do imbróglio e sua enraização no cotidiano brasileiro.
Sob esse viés, em princípio, o pensamento segregacionista racial se manifesta até o presente na sociedade civil, justificado por exemplo pela demolição de cortiços habitados por ex-escravos nas áreas centrais urbanas no período imperial. Dessa forma, a escritora brasileira Carolina Maria de Jesus, em sua obra literária "Quarto de Despejo", 1960, metaforiza que as cidades são como uma moradia, onde os centros urbanos são como a sala-de-estar, apresentável, e as áreas marginais, isto é, as favelas, o "quarto da bagunça", onde tudo aquilo que é considerado desagradável aos olhos é despejado, nesse caso, as manifestações da cultura africana. Desse modo, por herança do pensamento discriminatório petrificado no país, as manifestações africanas são vistas como desagradáveis ao olhar e indignas de apreço, apenas por estarem majoritariamente concentradas longe dos principais locais públicos, isto é, nas margens.
Outrossim, atua como agente potencializador do imbróglio a negligência governamental e sua passividade quanto aos desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Desse modo, o filósofo Nicolau Maquiavel atesta que o principal objetivo do governo é a manutenção do poder, o que deixa em segundo plano o bem-estar social. Símil aos ideais do filósofo, concretiza-se sua tese, de maneira errônea, dado o silenciamento estatal e sua mansidade em assegurar a beatitude da nação, o que rompe com os deveres cabíveis ao Estado, garantidos pela Constituição Federal de 1988, de manter a harmonia social igualitariamente para todos. Contudo, é notório que tal totalidade não abrange os afrodescendentes subjugados e invisíveis aos olhos da sociedade civil, o que aparenta que alguns são, aos olhos do supremo-poder brasileiro, "mais iguais" que outros.
Dessarte, ao Ministério da Educação, aliado ao Ministério da Cultura, concerne a adoção de medidas exequíveis que visem a atenuação dos desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Desse modo, a efetivação e aplicação de palestras e manifestações culturais, além da reformulação do material didático, nas escolas, à fim de levar às primeiras formas de aprendizagem o contato com a herança africana, com ajuda de figuras públicas afrodescendentes e historiadores especializados na área. Assim, quebram-se os vínculos com o lastro histórico escravocrata e suas mazelas, assegurando o bem-estar não apenas dessa população, mas da nação brasileira como um todo.