Título: Hereditariedade do poder: um entrave para a democracia.
No contexto político-social do Brasil Colonial no século XVI, a influência política concentrava-se nas mãos dos detentores de terras, uma vez que estes exerciam domínio sobre os meios de produção e, assim, detinham parte do capital financeiro. Nesse âmbito, o domínio da estrutura fundiária perpetua-se através da herança - mecanismo responsável por garantir o domínio dos bens matérias às gerações seguintes - de modo a salientar as desigualdades sociais. Esse problema advém dos privilégios vividos pela elite fundiária em decorrência do domínio agrário e seu consequente poder político.
Nesse contexto, durante o período colonial brasileiro, o Governo Português cedeu a determinados indivíduos o domínio das capitanias hereditárias - mecanismo utilizado para assegurar o governo sobre o território colonial - e, desse modo, garantiu-lhes poder político e consequentes privilégios. Entretanto, a concentração da influência política e sua perpetuação familiar tornou-se um agravante das desigualdades sociais, haja vista que a hereditariedade do poder impossibilita uma dinâmica de poder democrática, ao passo que garante privilégios apenas às parcelas elitizadas da sociedade. Nesse âmbito, o conceito de Poder em Cena, cunhado pelo sociólogo Georges Balandier, evidência que a dinâmica do poder se dá de forma puramente teatral e dependente de simbolismos, o que torna possível entender sua legitimidade no meio social e, analogamente, explica a legitimidade do poder das elites agrárias na atualidade.
Sob esse viés, segundo o filósofo Jean Jacques Rosseau, as desigualdades no âmbito social são ocasionadas pela propriedade privada, de modo que uma pequena parcela da sociedade detém grande parte das terras, ao passo que a outra não usufrue do mesmo privilégio e, desse modo, torna-se marginalizada. Nessa perspectiva, de acordo com Rosseau, as mazelas causadas pela propriedade privada devem ser amenizadas através de uma política baseada na vontade geral e na consequente distribuição justa de terras e poder.
Em suma, pode-se concluir que as dinâmicas de poder político no Brasil contemporâneo sofrem grandes influências do passado histórico colonial, uma vez que os mecanismos sociais da época possibilitaram a detenção da influência política e sua hereditariedade exclusivamente elitista, assim, inviabilizando uma estrutura política democrática e acessível às demais parcelas sociais.