Em sua obra "Ensaio sobre a cegueira", o escritor português José Saramago retrata uma cidade fictícia na qual, paulatinamente, as pessoas vão ficando cegas. Na trama, o autor utiliza dessa alegoria para criticar a falta de altruísmo e cooperação no mundo contemporâneo, em que os indivíduos se preocupam cada vez menos com o bem-estar social. Ao transpor a ficção e analisar a atual conjuntura brasileira, percebe-se que a obra exemplifica a realidade vivenciada no país, uma vez que o consumo de cigarros eletrônicos representa um problema que não recebe a devida atenção no território nacional. Nesse contexto, deve-se analisar como a negligência governamental e a formação familiar impulsionam tal problemática, com o intuito de solucioná-la.
Diante desse cenário, nota -se a inoperância governamental como fator agravante no uso descontrolado de cigarros eletrônicos no Brasil. Embora seja um produto proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária desde de 2009, a comercialização ocorre de maneira ilegal no país. Nesse prisma, verifica-se o descaso do poder estatal, visto que os "vapes" circulam livremente no território brasileiro, por falta de fiscalização do Estado, podendo ser comprado com facilidade e utilizado sem maiores preocupações. Dessa forma, enquanto a máquina pública negligenciar suas responsabilidades o problema perdurará.
Ressalta -se, ademais, que a formação familiar potencializa esse cenário. O uso de cigarros industrializados é tido como lazer no seio familiar, o objeto é tão naturalizado que fámilias inteiras o utilizam. Nesse óptica, os indivíduos utilizadores de cigarros eletrônicos não possuem instruções a cerca dos riscos que tal ato pode ocasionar como por exemplo o câncer.
Portanto, medidas são necessárias para combater o impasse. O Estado - em sua função de promotor do bem-estar social - deverá distribuir cartilhas educacionais para a população. Outrossim, fiscalizará com mais eficiência a comercialização do produto, multando esses comerciantes. Tais ações teram como finalidade alertar a coletividade sobre os riscos do consumo do cigarros eletrônico e ratifiacar a proibição do objeto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Assim, a luz da perspectiva de Saramago, poderemos mitigar a cegueira moral que permeia essa questão.