Pierre Lévy, filósofo francês que estudou os impactos das redes no mundo moderno, afirmou em sua obra “Cibercultura” que o saber não está mais concentrado, ele circula. De acordo a isso, entende-se que a difusão do acesso aos meios digitais deve ser ocorrer de maneira descentralizada de modo a atingir toda a população. Entretanto, na prática, a aplicação desses ideais revela-se como algo incerto, visto o modo como a desigualdade social e a ineficiência governamental apresentam-se tornando-se desafios na inclusão digital no Brasil.
Diante desse cenário, cabe ressaltar a disparidade de recursos e oportunidades existente entre as classes em meio à divisão da sociedade. A partir disso, desenvolve-se uma notória diferença no acesso à internet entre a população com melhores condições de vida e aquela que não dispõe das mesmas, o que configura uma afronta ao artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse que afirma garantir a todos o direito à informação, assegurando a igualdade no acesso à tecnologia.
Simultaneamente, convém observar que a ineficiência do apoio governamental afeta diretamente a problemática, visto, como exemplo, muitos programas do governo visam implementar o acesso a ações públicas ao meio digital, fazendo com que a margem da população que não detém de aparelhos tecnológicos fique excluída. Consequentemente, a falta de políticas públicas eficazes torna-se um descumprimento à Constituição Federal de 1988, visto que, em seu artigo 5°, esta garante igualdade a todos os cidadãos do país.
Portanto, o Estado — órgão responsável por garantir os direitos civis — deve criar políticas públicas que garantam a inclusão digital e promovam o acesso aos recursos tecnológicos. Isso deve se concretizar em ações coletivas que visem à distribuição de aparelhos digitais e na criação de redes Wi-Fi públicas em cidades e regiões carentes. Com isso, a desigualdade dos supracitados e, por fim, o saber irá circular, assim como dito por Pierre Lévy.