Na obra “A República”, o filósofo grego Platão idealiza Kallípolis, uma cidade livre de conflitos e problemas, na qual a cidadania plena é um privilégio universal. Essa concepção de harmonia social tornou-se um paradigma que, ao longo dos séculos, orientou as nações em busca de uma sociedade mais justa e próspera. No entanto, mais de dois milênios após a formulação da utopia platônica, os impactos do uso excessivo da tecnologia nas relações pessoais no Brasil ainda representam um obstáculo à construção de um tecido social equilibrado. Nesse contexto, a negligência governamental e a passividade social contribuem para a permanência desse cenário.

De início, é essencial destacar a omissão do poder público diante dos efeitos negativos da tecnologia. A Constituição de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, consagrou o acesso à dignidade como um dos pilares da nação. Entretanto, a falta de políticas que orientem o uso consciente das mídias digitais agrava o distanciamento interpessoal. Como afirma o filósofo americano John Rawls, o Estado deve promover o bem-estar social, e relegar essa pauta a segundo plano é incompatível com tal função.

Ademais, a impassibilidade social reforça esse quadro. O sociólogo Georg Simmel descreve a “atitude blasé”, uma indiferença diante do excesso de estímulos, que torna as pessoas insensíveis ao outro. De modo análogo, na era da hiperconectividade, a sociedade tende a ignorar os danos do uso exagerado da tecnologia. Superar esse problema requer não apenas políticas públicas eficazes, mas também uma mudança no ethos social, estimulando práticas empáticas e relações humanas mais autênticas.

Portanto, cabe ao Estado, responsável pela transformação social, promover campanhas de conscientização sobre o uso equilibrado da tecnologia, por meio de ações educativas e campanhas televisivas. Além disso, a mídia deve ampliar o debate sobre o tema, incentivando a reflexão coletiva. Assim, o Brasil poderá se aproximar dos ideais de justiça e harmonia delineados por Platão.