No cotidiano atual, é difícil não conhecer alguém que possui o hábito de se medicar sozinho quando sente uma dorzinha de cabeça, ou uma cólica incômoda, porém, esse pequeno sintoma pode se tornar uma dor de cabeça muito maior. A constituição brasileira de 1988, garante o direito ao acesso a saúde, porém, muitos brasileiros podem estar transformando este direito em um risco a sua própria saúde ao se automedicarem. A falsa sensação de possuir todo o conhecimento sobre as medicações, somado às propagandas apelativas que induzem as pessoas a consumirem medicamentos como se consome fast food, criam um cenário problemático de alta taxa de automedicação, e por isso, se faz necessário o debate.

O Efeito Dunning Kruger, é um fenômeno que descreve o comportamento humano de possuir a sensação de dominar um assunto quando na verdade se é totalmente ignorante acerca do mesmo, e pode ser facilmente notado no comportamento de muitos brasileiros que possuem a confiança para se automedicarem pensando saber todos os riscos de tal ato, quando na verdade quem possui esse conhecimento são os médicos, que devem ser consultados antes de qualquer pensamento de automedicação. Os efeitos colaterais adversos, possíveis alergias desconhecidas, entre outros riscos, se tornam as consequências desse ato irresponsável, podendo piorar ainda mais a saúde do paciente que busca uma solução rápida.

Isso também se relaciona diretamente com as constantes propagandas apelativas que geram lucros para indústria farmacêutica, pois elas causam uma falsa equivalência entre produtos farmacêuticos e outros produtos bem menos arriscados, como sapatos, blusas ou os famosos fast food. Ao pensar que tão facilmente quanto saciar a sua fome com um sanduíche, você pode também silenciar uma dor incômoda com um remédio no tempo de poucos minutos, o paciente é influenciado a fechar os olhos aos muitos riscos da automedicação. Levando isso em consideração, é de suma importância que ações sejam tomadas a fim de mitigar esta problemática.

Em primeira instância, é preciso considerar que, assim como as leis constitucionais garantem o direito a saúde, elas devem também, trabalhar para que esse direito não seja explorado. Se faz assim necessário, que o ministério da saúde trabalhe para que se façam valer as leis mais rígidas no controle de propagandas apelativas que prometem soluções milagrosas, incluindo avisos mais explícitos sobre os riscos da automedicação, penalizando aquelas marcas que falharem em ser explicitas o suficiente, para que a população seja sempre lembrada dos riscos, fazendo-os repensar a atitude de se automedicar.

Também é importante notar que, assim como diz a filósofa brasileira Djamila Ribeiro, é preciso antes de tratar um problema, tirá-lo da invisibilidade. Portanto, é de fundamental importância, que o governo federal direcione recurso público, para o investimento de peças de publicidade nos principais meios de comunicação e mídia, incluindo as redes sociais, conscientizando a população sobre os muitos riscos da automedicação, a fim de munir o cidadão com o poder da decisão mais sensata e isenta de maiores riscos, o que diminuiria a baixa sensação de riscos, e por conseguinte a taxa de automedicação no país. Dessa forma talvez possamos ver mais sentido prático e não só teórico da nossa constituição federal, e transformar em realidade, um estado verdadeiramente mais saudável da população brasileira.