A Constituição Federal, promulgada no ano de 1988, garante igualdade de direitos à todos os cidadãos brasileiros, deixando-os expressar suas raízes livremente. Entretanto, ao analisar-se a atual conjuntura do país, é possível notar que tal Carta Magna é constantemente maculada, visto que ainda existem desafios para a valorização da herança africana no Brasil, problemática ocasionada pelo preconceito enraizado e pela omissão midiática existente na nação.
Em primeiro plano, é válido pontuar que os costumes africanos são desvalorizados no país desde meados do Brasil Colônia, cenário o qual era marcado pela aversão a qualquer cultura que não fosse de origem eurocêntrica. Essa marginalização de hábitos ocasionou um estigma relacionado a herança africana que permanece até os dias atuais, tornando-a invisibilizada graças ao preconceito enraizado na sociedade brasileira, cuja divide esses indivíduos historicamente entre o relato imposto por seus colonizadores europeus e sua verdadeira expressão. Visto isso, tal divisão pode ser definida pelo escritor Gilberto Dimenestein como uma repartição da sociedade em dois âmbitos: o dos privilegiados e o dos excluídos, onde uns cidadãos possuem mais direitos e privilégios graças à um fator estrutural ou social excludente. Diante esse cenário, é possível inferir que uma determinada parcela da população atual tende a segregar e excluir minorias afro-descendentes devido à suas crenças e costumes pessoais, apagando a história e o legado africano existente no Brasil, o qual carece de medidas que busquem protegê-los deste "esquecimento".
Ademais, também faz-se necessário salientar que, graças à terceira revolução industrial, a mídia é a maior responsável pela propagação de informações em massa na contemporaneidade, sendo essencial para trazer visibilidade à inúmeras mazelas sociais. Infelizmente, apesar do que espera-se desse meio de conexões virtuais, ainda há a omissão midiática acerca do apagamento dos hábitos trazidos da África durante a miscigenação brasileira, dificultando a resolução desse impasse. Dessa forma, tal inércia informacional ocasiona uma "suavização" do quão problemática é a ocultação da história herdada pelos povos africanos. Analogamente a essa tese, o filósofo Achielle Mbembe expõe, em uma de suas teorias, que a desvalorização advinda das diferenças histórico-culturais de uma comunidade acarreta a sua "morte social", a qual deriva da supressão de seu direito de expressão e inviabiliza a sua cultura, deixando esses indivíduos em um estado de desigualdade conjuntural.
Mediante o exposto, torna-se notória a carência por uma solução. Portanto, cabe ao Estado, por meio do Ministério da Educação, elaborar campanhas e palestras que busquem introduzir a importância da herança africana no país, combatendo o preconceito enraizado na sociedade. Também é fulcral que o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, em parceria com a mídia, insira propagandas que visem enaltecer a cultura afro-descendente nos principais canais de comunicação, valorizando-a e tornando os seus representantes novamente filhos da pátria.