A canção “Senzala e favela”, de Chico Buarque e Emicida, expõe as origens da segregação socioespacial nas cidades e o quanto isso afeta, desde a escravidão, a população negra. Analogamente, na realidade brasileira, o racismo ambiental reflete a separação do espaço urbano e impacta, mais diretamente, as classes mais baixas causando graves impactos para o cotidiano. Dessa forma, cabe analisar como a gentrificação opera no âmbito social e como colabora para o aumento do número de refugiados climáticos, determinando a falta de dignidade do grupo atingido.
Nesse sentido, vale destacar que o processo de gentrificação nas cidades é um agente importante para superar o racismo ambiental. Sob esse viés, tal conceito foi desenvolvido por Ruth Glass, socióloga britânica, e explica que a segregação socioespacial acontece de forma gradual para a expulsão da população a favor da hierarquia do lucro. A partir disso, é possível observar que esse fenômeno possui diversos impactos, pois aumenta a desigualdade social – elevando os preços dos imóveis – e, consequentemente, gera o deslocamento dos moradores da região, marginalizando ainda mais as vítimas. Logo, é necessário entender como a gentrificação é prejudicial e deve ser combatida para superar o racismo ambiental no Brasil.
Ademais, o deslocamento de moradia de forma forçada não acontece apenas pela gentrificação, mas também como uma forma de fugir dos impactos ambientais nas comunidades mais carentes fruto da omissão estatal. Sob essa perspectiva, o livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, narra a história de Fabiano e sua família que tentam fugir dos efeitos da seca. Fora da ficção, na sociedade brasileira, os mais pobres também precisam driblar os efeitos das mudanças climáticas e se deslocam de sua moradia de origem buscando maior segurança e dignidade, visto que certas regiões são esquecidas pelo Poder Público e sofrem consequências irreversíveis por conta dos fenômenos naturais. Portanto, para conter tal migração é necessário a responsabilização do Estado pela falta de infraestrutura nas regiões.
Dessa forma, torna-se claro que a gentrificação causa inúmeros prejuízos sociais e é responsável pelo aumento de refugiados climáticos. Cabe, portanto, ao Ministério do Meio Ambiente a criação de um Grupo de Trabalho para o combate ao racismo ambiental, por meio da nomeação de especialistas em planejamento urbano a fim de frear estratégias que prejudiquem certas regiões. Além disso, cabe ao Ministério da Cidadania a criação de políticas públicas que visem acolher refugiados ambientais, por meio da reformulação de projetos já existentes com esse fim para que, apesar do deslocamento, essas comunidades recebam amparo do Estado.Somente assim, a canção de Chico Buarque e Emicida tornar-se-á obsoleta e mero retrato histórico, não mais realidade.