Na novela brasileira "Viva a diferença", a personagem Ellen é uma estudante negra que, em seu ambiente escolar e comunitário, sofre com o descaso e a invisibilidade em decorrência de sua etnia proveniente da África. Diante do exposto, para além da ficção, infere-se que a obra é análoga à realidade brasileira, visto que ainda é necessário buscar maneiras para mitigar os desafios relacionados à valorização da herança africana no Brasil, tendo a inoperância governamental e a falta de apoio midiático como principais impasses. Assim, torna-se imprescindível a discussão desses aspectos, afim do pleno funcionamento da sociedade.

Inicialmente, é fundamental destacar a ausência de medidas estatais para combater o revés. Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 — maior documento jurídico nacional — afirma que todos são iguais perante à lei, sem distinção de qualquer natureza. Contudo, a máquina pública rompe tal excerto, uma vez que a inclusão da cultura africana não é adotada em todas as instituições coletivas do Estado, especialmente nas redes de ensino, que não contêm, em suas grades curriculares, a diversidade dos elementos pertencentes à história do povo africano, aumentando, dessa forma, e impedindo a igualdade prevista na lei. Diante disso, nota-se que é mister a reformulação dessa postura estatal de forma urgente.

Outrossim, é imperioso frisar o silenciamento nas mídias como outro promotor do problema. Sob esse prisma, na lógica do filósofo americano Noam Chomsky, a mídia não apenas informa, mas também define o que merece ou não atenção, moldando a percepção pública por meio da invisibilidade de determinados assuntos. Nessa perspectiva, depreende-se que a tese do autor relaciona-se diretamente com o comportamento do corpo social e dos órgãos envolvidos, dado que o posicionamento dessas entidades é mínimo, prejudicando, dessa maneira, a ascenção dos traços do histórico dos indivíduos descendentes. Com isso, está iminente que essa mazela deve ser barrada.

Portanto, conclui-se que os entraves para o reconhecimento de tal herança, no território nacional, são causados pelo descaso governamental e pela falha midiática. Por isso, o Ministério da Educação — órgão responsável pela garantia da educação de qualidade — deve assegurar a inclusão de toda a população que se enquadra nesse cenário, fazendo isso por meio da ampliação da Base Nacional Comum Curricular — que determina o currículo de todas as escolas — que deve representar, de forma diversa, o legado cultural afro-brasileiro. Ademais, o mesmo pode conscientizar a coletividade sobre o tema, através de palestras nos meios de comunicação. Desse modo, tais ações tem o objetivo de incluir e levar conhecimento à nação verde-amarela a respeito dessa vastidão cultural, diminuindo, com essas atitudes, casos de exclusão como o de Ellen.