Na obra literária, “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, são apresentados cenários nos quais a personagem Bertoleza, uma mulher negra, é resumida somente à escravidão, evidenciando a desvalorização desses indivíduos em meio à sociedade. Nessa perspectiva, fora das páginas de ficção, o mesmo ocorre no Brasil, visto que a população enfrenta os efeitos negativos para a valorização da herança africana, decorrente da ineficácia estatal e do descaso pelo corpo social.
Em primeira análise, é de suma necessidade destacar que a ineficácia governamental se configura como um propulsor para a continuidade do imbróglio. Sob tal ótica, o geógrafo Milton Santos, em seu texto, “Cidadania Mutilada”, afirma que os indivíduos negros não são considerados cidadãos, pois seus direitos não são assegurados. Desse modo, tais constatações fazem-se verídicas, uma vez que o governo não direciona às redes de educação, o ensinamento da real história da cultura africana no Brasil, limitando-os ao período escravocrata, negando suas crenças e tradições. Assim, tal falha faz com que os direitos de cidadania não sejam cumpridos - todos são iguais perante a lei - o que causa infortúnios para mitigar o óbice.
Ademais, é indubitável que o descaso realizado pela sociedade, quanto a problemática, acarreta ainda mais desafios (como a discriminação racial), dificultando a valorização de indivíduos afro-brasileiros. Nesse sentido, Hannah Arendt, em sua expressão, “Banalidade do Mal”, diz que atos odiosos têm se tornado comuns e aceitáveis modernamente. Consoante a isso, a fala da filósofa é legítima em âmbito nacional, haja vista que a desvalorização da cultura africana é uma lacuna de cunho estrutural, que persiste hodiernamente, com práticas ofensivas, como o racismo, porém, são consideradas normais em meio a contemporaneidade. Dessa forma, o corpo social é responsável por promover entraves que contribuem para a existência desse impasse.
Depreende-se, portanto, que, para que haver o desenvolvimento do país, urge a necessidade da criação de projetos como palestras e debates, direcionados às redes públicas e privadas, com desígnio de apresentar/buscar meios para contornar os desafios da valorização da herança africana em território nacional, bem como conscientizar a população, por meio do corpo docente. Tais medidas, devem ser efetuadas pelo Estado, órgão responsável por assegurar os direitos aos cidadãos. Somente assim, os cenários não irão se assemelhar aos apresentados no livro, “O Cortiço”.