Segundo o dramaturgo irlandês Oscar Wilde, a insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de nação. Nessa perspectiva, tal afirmação pode ser facilmente aplicada nos desafios para a valorização da herança africana, visto que é justamente a ausência de incômodo social diante dessa vicissitude que a consolida como retrocesso na nação brasileira. Nesse contexto, é perceptível o fortalecimento de um grave problema em virtude do fator social e da invisibilidade da questão.
Em primeira análise, é preciso explorar o quesito sociocultural e suas implicações na temática. De acordo com Pierre Bourdieu, "não há democracia efetiva sem um verdadeiro crítico". Sob esse viés, a passividade na reflexão crítica do brasileiro sobre o apagamento cultural do povo afro destoa do progresso bourdieusiano e, com efeito, forma cidadãos sem interesse em resolver a matriz do imbróglio. Consequentemente, a ausência de autocrítica funciona como uma base para a intensificação dos pensamentos estereotipados acerca da história africana. Destarte, analisar criticamente as relações sociais de um povo é essencial para dirimir o revés.
Diante desse cenário, é crucial que a escassez de debates sobre a questão seja superada. Sob essa óptica, a filósofa Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação, antes de tudo, é preciso tirá-la da invisibilidade. Em contrapartida, o panorama nacional diverge do pensamento da filósofa, uma vez que o legado africano, ao ser reduzido a um passado de misérias, não é enxergado pelo círculo social. Como resultado, discussões a respeito do combate às representações distorcidas desse grupo, não tem as devidas considerações, dificultando, ainda mais, a mitigação do entrave. Portanto, urge que tais impasses sejam retirados do estado de nebulosidade para serem solucionados.
É evidente que tais problemas precisam ser revertidos. Para isso, o Governo Federal, por intermédio do Ministério da Cultura, deve criar um programa específico para financiar projetos voltados a história africana, visando combater a invisibilidade em massa dessa herança ancestral, para que, no futuro, essa cultura seja mais apreciada. Além disso, é de suma importância que a mídia, por meio da criação de campanhas sobre as tradições afro-brasileiras, apresente uma visão crítica acerca desse apagamento cultural mediante as divulgações tradicionais e digitais, para criar um sentimento coletivo de insatisfação nos cidadãos brasileiros. Feito esses pontos, a República Federativa do Brasil, poderá, enfim, dar o primeiro passo para o progresso.