O filme ganhador do Oscar “Ainda estou aqui” de 2024, dirigido por Walter Salles, repercutiu sendo mundialmente exibido na Europa e chegando até o Oriente Médio, demonstrando um alcance mundial e relevante. Entretanto, muitas produções significativas não recebem a devida atenção nacional e internacional; em suma, dependem em sua maioria de investimentos próprios e pouca estrutura. O catalisador da desvalorização do cinema nacional é o financiamento individual, sem qualquer apoio de instituições cinematográficas ou investidores de grandes projetos. As maiores projeções filmadas no Brasil foram responsabilidade dos cinéfilos privilegiados, o que se torna um fardo e retira os deveres do governo de incentivar a população a valorizar o audiovisual nacional.

As produções internacionais ganham destaque dentro do país por se tratarem de uma cinematografia histórica com investimentos caros, o que prejudica diretamente os projetos nacionais, pois os projetos nacionais são criticados e desaprovados com a justificativa técnica de que os filmes são de pouca ou nenhuma qualidade. Assim, acaba-se comparando excessivamente dois polos extremos, pois, diferentemente de grandes produções hollywoodianas, que são fortes referências mundiais no cinema, temos grandes projetos não valorizados.

As consequências sociais dessa devastadora gama de indivíduos que desconhecem a importância do cinema nacional é a mesma que critica e demoniza a cultura e história do país, abdicando de compreender o que somos e como pensamos. Por outro lado, há uma parcela de pessoas que desconhecem por falta de informação e baixa escolaridade, ressaltando o abandono de indivíduos que, em sua maioria, foram negligenciados e privados do entendimento.

Entretanto, os aspectos políticos influenciam diretamente na decadência do interesse por produções audiovisuais, pois, em muitos casos, podem determinar uma ideia preconceituosa envolta de filmes que retratam assuntos polêmicos que afetam diretamente a opinião e até mesmo podendo ferir os preconceitos do indivíduo, o que delimita o poder sobre o julgamento alheio. O fenômeno do “olhar doméstico” se propaga no momento em que os preconceitos ultrapassam o entendimento sobre a obra, o que pode ser um fator em potencial para a elitização do cinema, impedindo ainda mais o desenvolvimento crítico do cidadão, que deveria consumir cada vez mais produções nacionais.

Logo, com a identificação das barreiras criadas, pode-se haver um novo plano de incentivo para a população, como a exibição gratuita de filmes nacionais nos cinemas e eventos que contribuam com o conhecimento envolto do audiovisual e investimentos nas produções para que se destaquem mundialmente. Com isso, é importante desconstruir a hierarquia social que impõe a ideia de que há uma diferença entre entretenimento popular e elitista por meio de políticas públicas e novos ideais, para que se dissolva o conceito egocêntrico de poder absoluto ao qual se opõe o ideal dominante dessa pequena parcela.