O período inicial da história do Brasil, a partir do século XVI, foi marcado, em grande parte, pela participação de africanos que, apesar de intensamente explorados, trouxeram sua cultura ao Brasil. Entretanto, ainda que distante historicamente, o país enfrenta diariamente desafios para a valorização dessas heranças, evidenciando a manutenção de um cenário retrógrado, o qual urge ser superado. Nesse sentido, para viabilizar o reconhecimento prático da face afro-brasileira do país, é necessário agir sobre os principais obstáculos que o impedem: a educação epistemicida e a violência simbólica.
Sob esse viés, é válido ressaltar o sistema educativo de caráter epistemicida como propulsor dessa desvalorização. De acordo com Boaventura de Sousa, epistemicídio caracteriza-se pela invisibilização sistemática dos valores e saberes de povos diferentes do padrão ocidental, tais como os africanos, gerando a inferiorização deles em meio social e cultural. Nessa lógica, percebe-se esse apagamento associado às heranças africanas no âmbito brasileiro, uma vez que a abordagem de ensino delas nas escolas é escassa e, nas poucas ocorrências, deficitária, fator evidente, por exemplo, ao limitar-se as raízes da África no Brasil ao período da escravatura, no qual seus direitos culturais foram, predominantemente, suprimidos e violados. Dessa forma, cria-se nos alunos brasileiros uma noção distorcida e errônea de que esses valores estrangeiros são inferiores e insignificantes, dificultando seu digno reconhecimento.
Ademais, a postura de violência simbólica apresentada pela sociedade agrava a subalternização das heranças africanas históricas e civis. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, esse conceito refere-se a uma discriminação não necessariamente física, mas "invisível" — isto é, essencialmente moral e social —, a qual provoca uma hierarquização de grupos e, a partir dela, a marginalização das vítimas. Nesse cenário, ao perpetuar esse comportamento de dominação de culturas, descredibiliza as tradições de matriz africana transmitidas por gerações, mas ameaçadas pelo preconceito popular, que se manifesta em atitudes como a repulsão pela literatura e pelas personalidades públicas dessa origem. Logo, em decorrência da seletividade violenta com a qual as pessoas tendem a agir — atrelada à nocividade simbólica —, há a manutenção de uma nação que menospreza a relação afro-brasileira.
Portanto, medidas capazes de combater a negligência educacional e a incúria social são imprescindíveis. Para tanto, o Ministério da Educação — órgão responsável por agir em defesa da produtividade do ensino do país — deve introduzir na grade escolar aulas e momentos letivos que abordem os conhecimentos e tradições africanas, o que será feito por meio da reformulação da Banca Nacional Comum Curricular (BNCC) e contará com a participação de pessoas de ascendência nativa. Além disso, cabe à população acolher e se informar acerca dessa cultura, especialmente pela mídia. Tais ações têm o objetivo de valorizar essas ricas heranças e mitigar os prejuízos coloniais.